O cinema indonésio tem encontrado no terror um espaço de expressão cada vez mais ousado, e “O Elixir” surge como uma evidência disso. Dirigido por Kimo Stamboel, o longa transforma a clássica narrativa de zumbis em uma experiência que mistura caos, superstição e comentários sociais disfarçados sob litros de sangue falso. A premissa é simples, mas o resultado é vigoroso: uma família desestruturada decide testar um experimento para impulsionar as vendas de sua empresa de fisioterapia. A poção, prometida como um elixir milagroso, desencadeia um colapso coletivo e o que era marketing, vira apocalipse.

O que torna “O Elixir” interessante não é o que ele inventa, mas como ele recicla. A estrutura segue a cartilha do gênero: infecção, desespero, carnificina, fuga. Ainda assim, Stamboel domina o ritmo e conduz o público entre o grotesco e o cômico, entre o pavor e a ironia. O uso de efeitos práticos impressiona, e o resultado é um banho de vísceras emoldurado por um senso estético calculado. O filme tem o cheiro da lama e do arroz recém-colhido, mergulha nas tradições locais e transforma o ambiente rural em cenário de um pesadelo com sotaque indonésio.
Há, porém, um limite claro. O roteiro flerta com a crítica social, mas raramente a concretiza. Os personagens tomam decisões absurdas, e o argumento da ignorância coletiva em que os vivos confundem mortos com pessoas “possuídas” chega a ser fascinante, ainda que comprometa a verossimilhança. É um acerto cultural e, ao mesmo tempo, um tropeço narrativo. A ingenuidade das ações dos protagonistas funciona como espelho da sociedade que o filme retrata, mas enfraquece a própria tensão que ele constrói.
A fotografia, em tons terrosos e saturados, dá textura ao horror. Os figurinos e o design de maquiagem são primorosos, elevando o nível técnico da produção. O sangue flui, os corpos explodem e o filme entrega o que promete: espetáculo. Contudo, o impacto visual nem sempre se converte em impacto dramático. A repetição de cenas de perseguição e a previsibilidade das mortes enfraquecem a força dos últimos atos, e o longa acaba mais preocupado em chocar do que em dizer algo.
Mesmo com seus tropeços, “O Elixir” é um passo importante para o cinema de gênero da Indonésia. Ele confirma que Kimo Stamboel entende como poucos o terror local e sabe criar imagens que grudam na retina. Falta fôlego para o filme se tornar inesquecível, mas sobra personalidade. É um trabalho que celebra o absurdo e a coragem de filmar o caos sem filtros. Entre cabeças explodindo e poções amaldiçoadas, há ali uma metáfora potente sobre a vaidade humana e o preço de brincar com a cura.
“O Elixir”
Direção: Kimo Stamboel
Roteiro: Kimo Stamboel, Khalid Kashogi
Elenco: Eva Celia Latjuba, Mikha Tambayong, Donny Damara
Disponível em: Netflix
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