A adaptação russa de “O Mágico de Oz”, intitulada “O Maravilhoso Mágico de Oz”, tenta revisitar o clássico literário com novos elementos visuais e reinterpretar sua essência para um público. No entanto, o resultado final é desastroso em praticamente todos os aspectos: atuações comprometedoras, direção caótica, montagem perturbadora e um roteiro que ignora tanto o material de origem quanto a coerência mínima que se espera de uma narrativa audiovisual.
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A protagonista Ellie, interpretada por Ekaterina Chervova, representa um dos pontos mais problemáticos da produção. Sua atuação falha em todos os níveis: não há sincronização entre expressão facial, entonação e fala, e o desempenho dramático é substituído por gritos que parecem instruções desesperadas do diretor, que parece ter confundido histeria com intensidade emocional. A personagem, que deveria representar empatia e descoberta, é construída como uma figura egoísta e manipuladora, que instrumentaliza os demais personagens como “missões” descartáveis. O vínculo emocional que deveria guiar a narrativa é substituído por uma relação utilitária que mina qualquer tentativa de envolvimento do espectador.
O mesmo problema se estende aos coadjuvantes. O Espantalho e o Homem de Lata são os únicos que tentam manter alguma dignidade cênica, mas suas performances são arrastadas por uma direção que não oferece orientação nem propósito. Já personagens como Bastinda, interpretada com um descontrole quase cômico por Svetlana Khodchenkova, oscilam entre o caricato involuntário e o completo descolamento da proposta dramática. Em outros casos, há interpretações tão apáticas e desconectadas que fica difícil avaliar se tratam-se de escolhas conscientes ou apenas ausência de direção.
A montagem do filme é particularmente alarmante. O ritmo é destrutivo. Cenas são interrompidas a cada três ou quatro segundos por cortes que comprometem o entendimento espacial e narrativo. Em vez de fluidez, o espectador encontra uma sequência de reações desconexas, closes redundantes e transições aleatórias que mais confundem do que conduzem. É uma edição que literalmente agride a experiência de quem assiste. A câmera, por sua vez, parece movida por impulsos randômicos, voando sem propósito, rompendo qualquer noção de eixo espacial e criando cenas que geram mais desorientação do que fascínio.
A encenação sofre de um problema estrutural ainda mais grave: inconsistência geográfica e lógica narrativa. Personagens aparecem e desaparecem sem explicação, deslocam-se por grandes distâncias em segundos e interagem como se estivessem no mesmo plano físico, mesmo que as cenas indiquem claramente o contrário. Um exemplo crítico ocorre no primeiro encontro entre Ellie e os Munchkins, onde os personagens estão em níveis completamente diferentes de altura e distância, mas interagem como se estivessem lado a lado. A geografia da cena é impossível de decifrar e prejudica severamente qualquer tentativa de imersão.
A narrativa, por fim, é mutilada. O filme adapta apenas um terço da história original e simplesmente interrompe-se sem conclusão. Os eventos são reorganizados de forma arbitrária e distorcida, retirando do enredo toda progressão lógica. A vilã Bastinda é inserida em todos os arcos narrativos, desrespeitando o universo original e criando uma ilógica absoluta no desenvolvimento das ameaças. Não há respeito pelo tempo, pelo espaço ou pela construção de obstáculos significativos. As resoluções são improvisadas e desconexas. O uso de tecnologia como o smartphone de Ellie, que permanece com bateria infinita quebra qualquer suspensão de descrença e desvaloriza ainda mais o esforço de construção de um universo fantástico.
“O Maravilhoso Mágico de Oz” é uma das adaptações mais desastrosas e incoerentes da literatura infantil moderna já feitas para o cinema. Trata-se de um projeto esteticamente confuso, narrativamente incompleto e dirigido com total descuido. O que deveria ser uma fábula mágica sobre amizade e autoconhecimento se transforma em um espetáculo ruidoso, desconexo e visualmente agressivo. O filme falha em capturar o espírito do original e sequer consegue apresentar uma identidade própria convincente. Mesmo para os espectadores mais tolerantes a experimentações visuais, a experiência se revela frustrante e, por vezes, fisicamente incômoda.
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