Paul Greengrass nunca tratou o caos como espetáculo. Ele o filma como quem segura uma câmera dentro do olho do furacão, tentando encontrar humanidade no meio da catástrofe. Em “O Ônibus Perdido”, essa busca ganha contornos ainda mais intensos. O diretor transforma o desastre real do incêndio de 2018 em Paradise, Califórnia, em algo além da tragédia. É um filme sobre sobrevivência, mas também sobre culpa, redenção e o estranho heroísmo que nasce quando tudo o que resta é agir.
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A história acompanha Kevin McKay, vivido por Matthew McConaughey, um motorista de ônibus escolar que se vê diante de uma escolha impossível: salvar a própria família ou tentar resgatar 22 crianças presas nas chamas. Essa decisão, que poderia parecer cinematográfica demais em outro contexto, aqui ganha uma força brutal. Greengrass trata o fogo como uma criatura viva e insaciável, e o espectador sente o peso de cada respiração difícil, o estalo do metal aquecido, a fumaça que engole o mundo. O filme é menos sobre o incêndio e mais sobre o que ele queima dentro das pessoas.
Greengrass mantém sua estética inconfundível: câmera trêmula, montagem nervosa, realismo quase documental. Só que aqui, essa assinatura se torna mais emocional do que física. Há momentos em que o movimento excessivo sufoca, mas é parte da intenção. A câmera reflete o desespero de Kevin, um homem em colapso, tentando manter o controle quando tudo ao redor se desintegra. O caos é o ponto de vista.
A força do filme vem da contenção. Não há heroísmos cinematográficos nem discursos inspiradores. A tensão cresce de forma orgânica, quase insuportável, até que cada tentativa de fuga se transforma em uma derrota anunciada. Quando o alívio finalmente chega, o público está esgotado, mas também purificado, como quem atravessou o fogo junto com eles.
McConaughey entrega seu melhor trabalho em anos. Ele evita o carisma fácil e aposta em uma atuação crua, feita de medo, empatia e hesitação. É o anti-herói ideal para Greengrass: falho, cansado e profundamente humano. O ator passa o filme inteiro praticamente sentado, e mesmo assim carrega o peso do mundo nos olhos. Há algo de espiritual no modo como ele vive esse personagem, como se McKay estivesse redescobrindo um propósito no meio do inferno.
America Ferrera brilha como a professora que tenta manter as crianças unidas, e Yul Vazquez traz uma presença firme e melancólica como o chefe dos bombeiros. As crianças, por sua vez, são retratadas com realismo e vulnerabilidade, sem caricaturas nem sentimentalismo. Isso ajuda o filme a manter o tom sóbrio, respeitoso com o evento real que o inspirou.
Visualmente, “O Ônibus Perdido” impressiona pela textura. As chamas não são apenas efeitos digitais; parecem ter temperatura, densidade e ameaça reais. Cada fagulha carrega o medo da combustão total. Há uma beleza trágica na forma como Greengrass enquadra a destruição um espetáculo de fogo e fumaça que nunca perde o senso de humanidade.
No fim, o que fica é a sensação de que o herói de verdade não é quem sobrevive, mas quem se recusa a fugir. “O Ônibus Perdido” é um filme sobre coragem silenciosa, sobre a redenção que nasce no meio da catástrofe e sobre o poder devastador de um único gesto altruísta.
“O Ônibus Perdido”
Direção: Paul Greengrass
Elenco: Matthew McConaughey, America Ferrera, Yul Vazquez
Disponível em Apple TV+
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