Dirigido novamente por Galder Gaztelu-Urrutia, “O Poço 2” traz de volta a aterrorizante prisão vertical e suas regras implacáveis, porém, com uma nova camada de caos. A história agora segue os personagens Perempuán (Milena Smit) e Zamiatin (Hovik Keuchkerian), que se veem, como de costume, à mercê da mesa flutuante que desce de nível em nível, levando o banquete que nunca é suficiente para todos. O diferencial desta vez? Uma figura misteriosa surge, estabelecendo uma nova norma, uma “Revolução Solidária“, onde cada um deve se contentar com seu próprio prato. Parece justo, né? O problema é: quem fiscaliza a justiça em um lugar onde a lei é a sobrevivência?
Bom, antes de entrar na sequência, vale lembrar o fenômeno que o primeiro filme foi. “O Poço”, lançado em 2019, chocou o público com sua crítica feroz ao capitalismo e à desigualdade, usando a metáfora da plataforma que desce pelos níveis da prisão como uma forma de evidenciar o egoísmo humano e a luta por recursos escassos. Foi uma obra densa, sombria e carregada de tensão social, e é justamente por isso que causou tanto impacto.
Agora, falando de “O Poço 2”, a pergunta inevitável é: a sequência mantém o mesmo nível? Bom, NÃO!
A crítica social até ganha mais peso aqui, mas o enredo deixa a desejar, tornando essa continuação totalmente desnecessária. A trama, que no primeiro filme era instigante, parece se perder em sua própria pretensão nesta sequência. É como se o filme tivesse tentando ser mais profundo do que realmente consegue ser uma confusão de metáforas e alegorias que, francamente, não fazem muito sentido.
O elenco, pelo menos, está afiado. Hovik Keuchkerian e Milena Smit entregam boas performances, tentando salvar uma história que simplesmente não decola. Há momentos interessantes nos primeiros 40 minutos, mas o filme rapidamente se perde, desmoronando como uma plataforma mal construída (risos).
“O Poço 2” é pretensioso, tentando ser algo que não consegue sustentar. Ele se propõe a ser uma obra cheia de simbolismos, mas essas camadas se mostram vazias e sem explicação coerente. Sim, há sangue, violência e brutalidade o suficiente para mantê-lo, de certo modo, assistível, mas, no fundo, o filme é uma bagunça que não consegue alcançar a grandeza do original.
O pior é que a Netflix parece estar entrando naquela velha fórmula: “se deu certo uma vez, vamos fazer de novo“. E o resultado é previsível, uma sequência que parece existir apenas por existir, sem trazer nada de novo ou relevante. E, sinceramente, a premissa do primeiro filme era perfeita em sua simplicidade; ela não precisava de uma continuação.
Claro, o filme ainda entretém em alguns níveis, especialmente se você é fã de ver o homem lutando contra o sistema opressor. Mas mesmo essa metáfora, que funcionou tão bem no primeiro, aqui se transforma em uma confusão desnecessária. O que era uma crítica sólida à desigualdade social agora é uma massa disforme de ideias mal elaboradas, que não se sustentam e só geram frustração.
O desfecho tenta provocar algo mais emocional, mas acaba caindo no óbvio e no exagero. No fim das contas, “O Poço 2” tenta dizer muitas coisas, mas se perde em todas elas, resultando em uma obra que não sabe se quer ser uma crítica social, um thriller violento ou uma discussão sobre religião e cultura. Fica tudo no meio do caminho, sem chegar a lugar nenhum.