“O Que Tiver Que Ser”, dirigido e protagonizado por Josephine Bornebusch, é um retrato sensível e honesto sobre as imperfeições das relações familiares. A trama acompanha Stella, uma mulher determinada a manter sua família unida, mesmo quando tudo parece conspirar contra. Com o casamento em ruínas, um filho pequeno sedento por atenção e uma filha adolescente em constante embate, Stella decide reunir todos em uma viagem de carro para o torneio de pole dance da filha. Durante as dez horas de estrada, segredos vêm à tona, mágoas transbordam e os vínculos entre os personagens são postos à prova de maneiras tão intensas quanto genuínas.
O roteiro brilha ao explorar a complexidade das interações humanas. Os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e, acima de tudo, reais. A força do filme está em sua capacidade de equilibrar momentos de humor e leveza com uma abordagem crua e emotiva. O espectador é convidado a se identificar com os personagens e refletir sobre suas próprias dinâmicas familiares. Josephine Bornebusch entrega uma performance sólida, transmitindo com autenticidade a luta de Stella para equilibrar controle e vulnerabilidade, enquanto Pål Sverre Hagen surpreende com uma atuação que cresce ao longo da trama.
Embora a narrativa seja envolvente, há escolhas técnicas que não alcançam o mesmo nível. A fotografia é funcional, mas poderia ter sido mais explorada em momentos dramáticos, criando uma atmosfera visual que intensificasse as emoções. A edição, por sua vez, oscila entre ritmos que ora estendem momentos desnecessariamente, ora aceleram transições importantes, comprometendo a imersão em algumas cenas cruciais. Além disso, o filme toma uma direção que pode dividir opiniões: ao revelar a doença de Stella, a trama central passa a orbitar esse drama, o que, embora emocionalmente potente, acaba diluindo a força do conflito coletivo inicialmente apresentado.
Vale a pena?
Sim, “O Que Tiver Que Ser” vale a experiência, especialmente para quem aprecia dramas familiares com um toque de melancolia e autenticidade. Apesar de suas imperfeições técnicas, o filme entrega personagens bem construídos, uma narrativa envolvente e temas universais que ressoam profundamente. Sua popularidade na Netflix , onde ocupa o segundo lugar entre os mais assistidos do mês não é à toa. É um filme que emociona, provoca reflexões e deixa o espectador com aquela sensação agridoce de que, assim como na vida, nem tudo precisa ser perfeito para ter valor.