O que Papatinho faz em “MPC – Música Popular Carioca” é mais do que uma revisita ao passado. É um reposicionamento sonoro do funk carioca dentro da lógica contemporânea da produção musical, sem desrespeitar os códigos do gênero. Em vez de se contentar com o lugar de produtor referência, ele se coloca como curador e articulador de um projeto que entende o funk como cultura, linguagem e memória coletiva.
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Esse disco não tenta traduzir o funk. Ele parte do princípio de que o ouvinte já compreende o idioma, mesmo que só o reconheça de longe. É por isso que a arquitetura da obra impressiona mais pelo conjunto do que por qualquer elemento isolado. Existe intenção de discurso, existe visão estética, existe clareza técnica. Cada faixa colabora para que a audição soe orgânica, mesmo quando estilos, vozes e eras colidem. É como se o produtor desenhasse uma linha do tempo e, ao invés de segui-la, tivesse decidido dobrá-la até os extremos se tocarem.
Papatinho domina a técnica de fazer o groove respirar. Os timbres que escolhe não obedecem modismos, e sim função: sintetizadores que remetem ao Miami Bass se fundem a programações que não têm medo de soar datadas, porque sabem que pertencem a algo maior que a moda. O projeto entende que produzir não é polir, é dar forma ao caos do som coletivo de uma cidade.
Existe um mérito conceitual ao transformar o funk, que sempre teve pulsação fragmentada, em corpo fechado. “MPC – Música Popular Carioca” é coeso sem ser preso, livre sem se tornar difuso. É um disco que parece mais preocupado em documentar uma história do que apenas atualizá-la. E essa escolha editorial é, por si só, um gesto político e artístico.
Há quem questione certas decisões estéticas do álbum. A escolha por um encerramento cantado em inglês, por exemplo, tensiona a proposta de exaltação local. Pode soar deslocado, ainda que carregue simbologia. Mas isso não diminui o impacto de um disco que se estrutura como ponto de convergência entre gerações, quebrando a falsa ideia de que tradição e futuro são opostos.
Papatinho entrega um álbum que respeita o passado, domina o presente e desafia o futuro. A “Música Popular Carioca” aqui não é invenção. É afirmação. E a MPC, além de máquina, vira manifesto.
Nota: 70/100
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