Baseado no best-seller de Megan Maxwell, o filme espanhol “Peça-me o que quiser” tenta, sem sucesso, se posicionar como um drama erótico com toques de romance, mas tropeça em quase todos os aspectos da execução. Com um roteiro frágil, personagens desprovidos de densidade e uma condução que oscila entre o superficial e o ridículo, a adaptação se revela mais como um exercício de fetichização vazia do que uma história envolvente sobre desejo e descoberta.
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A trama gira em torno de Judith Flores, uma jovem comum que se vê envolvida com Eric Zimmerman, um empresário milionário que a introduz em um universo de jogos sexuais e dinâmicas de poder. A premissa, embora promissora para quem busca um erotismo mais direto, sofre com uma incapacidade estrutural de construir qualquer tipo de tensão narrativa ou emocional entre seus protagonistas. O romance nunca se sustenta porque simplesmente não existe. Não há desenvolvimento afetivo, não há intimidade que vá além do contato físico. O roteiro parece esquecer que erotismo sem conexão vira apenas repetição vazia.
A química entre os protagonistas é quase inexistente. Judith e Eric compartilham cenas intensas que, na prática, carecem de qualquer autenticidade ou atrativo emocional. A relação entre eles nunca convence, nem como fantasia, nem como experiência emocional real. Pior ainda, a personagem Betta, que aparece brevemente, consegue gerar mais conexão e interesse com Judith do que o próprio par romântico oficial durante duas horas inteiras de filme.
As atuações agravam ainda mais a sensação de artificialidade. O protagonista masculino entrega um desempenho raso, construído com base em frases genéricas e uma expressão permanente de aborrecimento. Sua postura autoritária, travestida de sedução, revela-se apenas agressiva e imatura, enquanto a personagem feminina passa boa parte do tempo sendo reativa, servindo como espectadora passiva da dinâmica imposta por ele. Nenhum dos dois parece evoluir ou sequer se transformar ao longo do filme. A promessa de uma relação transformadora cede lugar a uma sucessão de cenas mal conectadas, em que a nudez aparece muito, mas diz pouco.
O filme tenta compensar seus inúmeros problemas com uma direção de fotografia elegante. De fato, visualmente, “Peça-me o que quiser” possui uma estética cuidadosa, com iluminação sofisticada e enquadramentos que sugerem erotismo com algum refinamento. No entanto, o requinte visual esbarra em um conteúdo sem substância. Não há fluidez na narrativa, tampouco consistência na condução dramática. É um produto que se pretende sedutor, mas que se mostra superficial e repetitivo.
Mais preocupante, porém, é a forma como o filme aborda a sexualidade feminina. Longe de explorar o empoderamento ou o desejo como potência, a trama recai em clichês nocivos. A mulher é retratada como objeto a serviço de um homem rico e emocionalmente instável, cuja justificativa para o controle e a manipulação são traumas passados que jamais se aprofundam. É uma representação ultrapassada e, em certos momentos, abertamente misógina. O desejo é apresentado como algo que deve ser tolerado ou superado pela protagonista, e não vivenciado com autonomia.
O erotismo, quando bem desenvolvido, pode ser ferramenta de libertação, reflexão e até provocação. Filmes como “Ninfomaníaca” ou “O Amante” provam que é possível discutir prazer, trauma e identidade com profundidade e complexidade. “Peça-me o que quiser” não apenas evita qualquer nuance, como reforça uma visão antiquada e unilateral de relações afetivas e sexuais. O que poderia ser uma história sobre libertação e descobertas acaba servindo apenas como um pretexto mal disfarçado para explorar o corpo feminino sob a ótica de um desejo masculino imaturo.
Falta paixão, falta conflito verdadeiro, falta narrativa. Tudo se resume a um jogo que se repete até a exaustão, sempre dentro dos mesmos padrões: o homem manda, a mulher obedece. A trilha sonora genérica e os diálogos mecânicos apenas ampliam a sensação de uma obra sem identidade, feita para explorar um nicho de mercado que já começa a demonstrar sinais de saturação.
“Peça-me o que quiser” fracassa como romance, decepciona como drama e é ineficaz como filme erótico. É mais uma entrada em uma longa lista de adaptações literárias que confundem desejo com dominação sem propósito, e que acabam por transformar narrativas de potencial em produtos descartáveis. Um filme que promete transgressão, mas entrega apenas estagnação.
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