Filmes de comédia romântica seguem uma fórmula conhecida, e isso não é um problema quando há química entre os protagonistas, um roteiro bem amarrado e personagens carismáticos. “Queimando o Filme”, lançado em 6 de março de 2025 no Amazon Prime Video, tenta se encaixar nesse molde, mas se perde ao longo do caminho. Apesar de um conceito interessante, a busca pelo amor em cinco encontros, baseada em uma previsão mística, a execução se perde em personagens pouco desenvolvidos, diálogos artificiais e um romance que nunca convence de fato.
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O filme acompanha Pia (Simone Ashley), uma fotógrafa que não se empolga com a ideia de encontrar um parceiro, mas que, por insistência da família e da cultura em que está inserida, acaba cedendo à consulta com um guru amoroso. O problema central da narrativa surge justamente desse ponto: se Pia não quer seguir a previsão, por que de fato ela aceita embarcar na jornada? A construção da protagonista sugere uma resistência maior do que aquilo que realmente acontece ao longo da história, tornando suas ações um tanto incoerentes.
Essa inconsistência também se reflete na dinâmica entre os personagens. A relação de Pia com sua melhor amiga parece desequilibrada, e o próprio desenvolvimento romântico se arrasta sem oferecer momentos significativos que convençam o público de que aquele casal deveria estar junto. Charlie, o interesse amoroso, carece de qualquer complexidade: pouco sabemos sobre ele, sua personalidade ou suas motivações. Se ele é o padrinho do casamento que impulsiona toda a trama, por que nunca o vemos interagindo com o noivo? Isso faz com que sua presença pareça deslocada, resultando em um romance que nunca ganha força suficiente para que o espectador torça por ele.
Há também um problema maior em termos de representação. O filme traz uma protagonista morena e uma equipe criativa composta por mulheres sul-asiáticas, mas ainda assim se prende a uma narrativa que esvazia suas possibilidades. O roteiro abre espaço para explorar cultura, identidade e até mesmo as pressões sociais em torno do casamento, mas opta por tratar esses elementos de forma superficial. Em vez de aprofundar essas questões ou oferecer uma protagonista com desejos e motivações reais, o filme se contenta em seguir um caminho já trilhado, em que a jornada da personagem termina na validação romântica de um parceiro branco sem carisma.
Isso se torna ainda mais frustrante quando se compara com obras anteriores que conseguiram equilibrar romance, representatividade e profundidade, como “Mississippi Masala” um filme que, ao contrário deste, construiu uma relação crível, carregada de química e embasada em questões sociais e históricas. O cinema do sul da Ásia tem produzido histórias vibrantes e ricas, mas “Queimando o Filme” acaba sendo uma escolha conservadora em meio a esse cenário, entregando um resultado previsível e pouco inspirado.
Se a intenção era criar uma comédia romântica leve e divertida, o filme até cumpre esse papel em certos momentos, principalmente no design de produção e na ambientação. Algumas cenas arrancam risadas, e Simone Ashley tem presença o suficiente para carregar partes do longa, ainda que o roteiro não jogue a seu favor. No entanto, falta alma à história, falta substância ao romance e falta complexidade aos personagens. O resultado é uma obra que, apesar de prometer algo novo, cai nos mesmos clichês desgastados, sem conseguir justificá-los.
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