Luca Guadagnino, cineasta conhecido por seu domínio visual e narrativas marcadas por sutilezas psicológicas, entrega em “Rivais” (Challengers) um filme que promete intensidade emocional e sexual, mas tropeça em seus próprios clichês e decisões narrativas. O longa explora o triângulo entre Tashi (Zendaya), seu marido Art (Mike Faist) e o ex-namorado Patrick (Josh O’Connor), mas o faz de forma rasa, não aproveitando tanto o talento do elenco quanto o potencial dramático da história.
O filme apareceu em previsões de renomadas publicações, como a Variety. Além disso, segue em campanha para a premiação do Oscar, marcada para março de 2025.
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A linha narrativa principal se constroi em torno do tênis, mas o esporte é tratado de maneira funcional, quase um artifício. Em filmes como “Eu, Tonya” ou “Rush”, o esporte não é apenas um cenário, mas um reflexo das motivações e dilemas dos personagens. Aqui, as quadras de tênis são estáticas, sem a intensidade ou paixão que poderiam simbolizar as complexas relações entre os protagonistas. Guadagnino tenta compensar isso com tomadas em câmera lenta e closes nas micro expressões dos atores, mas a repetição dessas escolhas visuais cansa rapidamente. O impacto emocional esperado das partidas tanto esportivo quanto pessoal simplesmente não acontece.
A estrutura narrativa, por sua vez, é um dos pontos mais problemáticos. A linha do tempo salta de forma brusca e mal justificada, deixando lacunas que enfraquecem o envolvimento do público com os personagens. O flashback que revela o rompimento entre Patrick e Tashi, por exemplo, é risível em sua simplicidade. A briga decorrente de uma lesão no joelho não apenas soa absurda, como também reduz o impacto emocional de um momento que deveria ser crucial para estabelecer a complexidade dos protagonistas. Pior, a maneira como isso afeta a amizade entre Patrick e Art é igualmente rasa. Não há espaço para nuances ou construção de tensão dramática, apenas decisões narrativas apressadas.
Tashi é apresentada como uma força da natureza, mas o roteiro não sustenta essa premissa. Zendaya entrega uma atuação carismática, mas é limitada por um personagem que parece mais uma coleção de ideias do que alguém real. Seu domínio sobre Art, o marido, se torna quase caricatural, reduzindo-o a uma figura subserviente e unidimensional. Patrick, por sua vez, é ainda mais apagado, representando apenas o “fantasma do passado” de Tashi, sem qualquer profundidade que justifique suas ações no presente.
Guadagnino já demonstrou em trabalhos anteriores que sabe construir personagens moralmente ambíguos e fascinantes. Em “Me Chame Pelo Seu Nome”, as complexidades emocionais emergem organicamente das interações; em “Suspiria”, a psicologia se mistura ao horror de forma complexa. Aqui, no entanto, falta essa habilidade de explorar a ambiguidade. Os personagens de “Rivais” não são contraditórios ou imprevisíveis, apenas desinteressantes. A tensão sexual, que deveria ser um motor da narrativa, parece forçada e sem autenticidade, reduzida a olhares prolongados e situações que nunca chegam a lugar algum.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross é uma das poucas qualidades marcantes do filme, trazendo texturas sonoras que complementam a estética visual. Porém, nem mesmo a música é suficiente para salvar uma trama que desperdiça oportunidades de exploração emocional e simbólica. As partidas de tênis, que deveriam ser o ápice dramático, carecem de ritmo, energia e até propósito narrativo.
Tecnicamente, Guadagnino mantém sua assinatura estilística, mas seu foco na estética visual se torna um escudo para esconder as fraquezas do roteiro. Longas tomadas de bolas de tênis atingindo o chão, closes dramáticos e cenários cuidadosamente iluminados não substituem a falta de envolvimento emocional. O público é constantemente lembrado de que está assistindo a um filme bonito, mas vazio.
Há uma diferença entre personagens antipáticos e personagens entediantes, e “Rivais” não sabe navegar essa linha. Filmes como “Uncut Gems” ou “Tar” mostram que protagonistas moralmente ambíguos podem cativar pela intensidade de suas escolhas e pelo impacto emocional de suas jornadas. Em “Rivais”, os personagens não têm força para carregar suas próprias histórias. Tashi, Art e Patrick são definidos mais por seus papéis na trama do que por suas ações ou desejos genuínos.
Mesmo o triângulo amoroso, que deveria ser o núcleo do filme, é tratado com uma superficialidade que beira o desinteresse. Tashi “escolhe” Art desde o início, e Patrick, embora presente, nunca representa uma ameaça real. O roteiro sugere tensão, mas evita riscos, deixando qualquer promessa de drama emocional ou reviravolta inexplorada.
O filme infelizmente falha em conectar os elementos que prometiam algo grandioso. As quadras de tênis não vibram, as relações humanas são desprovidas de intensidade, e os personagens parecem tão desinteressados em suas próprias vidas quanto o público que os assiste. Luca Guadagnino já demonstrou que é capaz de criar filmes emocionalmente ressonantes e visualmente deslumbrantes, mas aqui entrega um trabalho desequilibrado, onde a estética não consegue sustentar a falta de substância.
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