“Sangue Possuído” se vende como uma fábula sombria sobre amadurecimento, repressão e o preço da liberdade em ambientes sufocantemente religiosos. Mas o que começa com promessas de tensão psicológica e simbolismos densos se esvai em um roteiro disperso, que se aproxima de temas importantes, mas nunca mergulha neles com coragem ou coesão narrativa.
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A trama gira em torno de Emerson, vivida por Summer H. Howell, uma adolescente que se muda com a família para uma comunidade isolada nas montanhas do Canadá. Quando uma jovem do vilarejo é encontrada morta, Emerson suspeita que algo monstruoso habita os arredores da floresta. A partir daí, ela e um grupo de garotas, lideradas pela misteriosa Delilah (Sarah-Maxine Racicot), decidem enfrentar a ameaça, evocando forças ocultas que também desenterram traumas, desejos e um grito abafado por anos de doutrina.
A premissa é rica e poderosa. O monstro pode ser real, mas também pode ser uma metáfora viva do que é crescer como mulher em um ambiente que censura a autonomia, o corpo e o pensamento. Há ecos de “O Senhor das Moscas”, “The VVitch” e “Yellowjackets”, com rituais secretos, ligações femininas intensas e um subtexto constante sobre sexualidade, opressão religiosa e o medo do feminino fora de controle. Mas essa ambição se transforma em um problema quando o filme falha em desenvolver com profundidade qualquer um desses elementos.
O maior obstáculo de “Sangue Possuído” é a condução de sua narrativa. A direção de Carly May Borgstrom parece hesitar entre o drama, o suspense e o terror psicológico, sem encontrar uma linguagem que dê unidade ao filme. Os conflitos são introduzidos, mas jamais amadurecem. As personagens secundárias são pouco exploradas, e mesmo as protagonistas ficam presas a arquétipos pouco desenvolvidos. Temas como bullying, sexualidade e culpa surgem em cena como lampejos, mas sem densidade dramática ou impacto narrativo.
O ritmo lento não contribui para o clima. O filme se arrasta, se repete e evita resoluções. Em vez de construir tensão, o roteiro prefere acumular conflitos que parecem prometer algo maior, mas terminam em vazios. O suposto clímax surge tarde demais e se encerra sem catarse, deixando a sensação de que o que deveria ser uma revelação devastadora se dilui como névoa no ar.
Há méritos técnicos evidentes. A fotografia é eficaz, especialmente nos planos abertos da floresta, que funcionam como extensão simbólica do desconhecido. A direção de arte acerta ao representar o enclausuramento físico e emocional daquele ambiente. O elenco jovem também entrega boas performances, com destaque para Howell e Racicot, que seguram o pouco que o roteiro oferece. Ainda assim, é difícil criar vínculo com personagens que se tornam cada vez mais opacas.
“Sangue Possuído” acerta nas intenções, mas falha na entrega. Seu maior monstro não está na mata, mas na ausência de foco, de atmosfera e de coragem para levar suas ideias até o fim. O resultado é um filme que flerta com o simbólico, mas recua diante da densidade. Uma obra que poderia ser inquietante, mas se contenta em ser apenas curiosa. No fim, tudo parece um prólogo que se alonga demais e nunca começa de fato.
“Sangue Possuído”
Direção: Carly May Borgstrom
Elenco: Summer H. Howell, Sarah-Maxine Racicot, Michael Wittenborn, Greg Bryk, Sarah Abbott, Lyla Elliott, Ariadne Deibert, Michelle Monteith, Kimberly-Sue Murray
Disponível na HBO Max
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