“Setembro 5” é um thriller histórico que coloca o espectador dentro de uma redação improvisada durante o Massacre de Munique, em 1972. Inspirado em um dos momentos mais tensos da história dos Jogos Olímpicos, o filme apresenta a cobertura da tragédia pelo ponto de vista da equipe da ABC Sports, jogando luz sobre a complexidade do jornalismo em situações de crise. É uma obra que combina precisão histórica com o dinamismo de um drama de bastidores, mas deixa lacunas emocionais que comprometem sua potência.
O filme apareceu em previsões de renomadas publicações, como a Variety. Além disso, segue em campanha para a premiação do Oscar, marcada para março de 2025.
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Tim Fehlbaum conduz o filme com uma direção técnica impecável. O diretor consegue capturar o caos e a incerteza daqueles dias, recriando o ambiente da redação de forma quase documental. Cada escolha parece meticulosamente calculada: o som das máquinas de escrever, a pressão constante dos telefones tocando e a tensão crescente entre os jornalistas criam uma atmosfera claustrofóbica que nos transporta diretamente para 1972. A montagem, ágil e frenética, reflete o ritmo de uma redação que precisa se adaptar rapidamente, transformando o inesperado em manchetes.
John Magaro e Ben Chaplin comandam o elenco com atuações marcantes. Magaro entrega um protagonista que transita entre o pragmatismo necessário e as dúvidas éticas que o momento exige. A atuação dele não é grandiosa ou cheia de gestos exagerados, mas exata, como o perfil de um jornalista acostumado a decisões rápidas, mas profundamente afetado pela responsabilidade de cobrir uma tragédia. Ben Chaplin, por sua vez, oferece um contraponto mais sereno, mas igualmente relevante, equilibrando as interações com inteligência. Essa parceria é um dos pontos altos do filme, sustentando diálogos que são, ao mesmo tempo, técnicos e cheios de subtexto.
O roteiro se destaca ao explorar o impacto do jornalismo ao vivo em um evento de proporções globais. Questões como a responsabilidade ética e o papel da imprensa em momentos de crise são abordadas com rigor. Em cenas tensas, vemos os jornalistas debatendo como apresentar as notícias de forma a não interferir diretamente nas negociações com os sequestradores. São momentos que evidenciam o peso das palavras e o impacto que uma transmissão pode ter em tempo real. Apesar disso, o filme opta por não aprofundar as implicações políticas do atentado, o que pode frustrar espectadores que busquem uma análise mais ampla do contexto histórico.
Visualmente, o longa é um triunfo. A recriação de 1972 é precisa, desde os figurinos até os equipamentos analógicos usados na transmissão. A atenção aos detalhes dá veracidade ao filme, imergindo o público em um momento em que a televisão ainda experimentava os desafios de cobrir eventos ao vivo. Tim Fehlbaum usa a limitação técnica da época a seu favor, transformando falhas nas transmissões e atrasos na comunicação em elementos que aumentam a tensão.
Contudo, “Setembro 5” apresenta limitações significativas. A curta duração do filme não permite um mergulho profundo nos personagens. As relações interpessoais, que poderiam dar uma camada emocional mais rica ao filme, são relegadas a segundo plano. A escolha de manter o foco exclusivamente na redação é funcional, mas acaba resultando em uma narrativa que, embora tecnicamente brilhante, é fria e mecânica. A praticidade do filme, embora compreensível no contexto de um drama de bastidores, deixa de explorar a fundo as complexas motivações e consequências do ataque.
“Setembro 5” é, antes de tudo, uma celebração do jornalismo como profissão. Ele coloca em evidência a habilidade, a rapidez e a clareza necessárias para cobrir eventos caóticos. É o tipo de filme que vai agradar quem se encanta por histórias sobre competência em ação. Contudo, para além da admiração técnica, falta uma conexão emocional mais profunda. O filme nos faz respeitar o trabalho dos personagens, mas raramente nos faz sentir o peso pessoal das decisões que eles tomam.
O longa se posiciona como uma criação sólida, feita para quem aprecia dramas de bastidores bem executados, mas que não transcende sua proposta inicial. Seu foco técnico é admirável, mas sua falta de profundidade emocional e narrativa impede que ele alcance a grandeza que poderia ter. É um filme eficiente, mas não transformador. Definitivamente vale a sessão, mas talvez não fique na memória por muito tempo.
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