Estreando em 1998 pela HBO, a primeira temporada de “Sex and the City” estabeleceu um novo modelo para a comédia televisiva contemporânea ao incorporar linguagem adulta, realismo emocional e um forte senso de identidade urbana. Criada por Darren Star e baseada nas colunas semi-autobiográficas de Candace Bushnell no New York Observer, a série surge como uma resposta direta ao escapismo tradicional das sitcoms noventistas, propondo um retrato menos idealizado das relações e da vida profissional de mulheres solteiras em Nova York.
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A temporada inicial, com seus doze episódios, introduz Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), uma colunista que investiga os dilemas modernos do sexo e do amor por meio de sua escrita e de suas vivências com as amigas Samantha (Kim Cattrall), Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis). O grupo forma o núcleo dramático da série, onde cada personagem encarna arquétipos femininos distintos, mas que não se limitam a caricaturas: o exagero serve como ponto de partida para discussões sobre normas sociais, desejo, independência e vulnerabilidade.
“Sex and the City” rapidamente se posiciona como uma obra que tensiona a linha entre comédia e comentário social. Apesar da aparência leve, há uma densidade crítica em suas escolhas temáticas. Ao colocar o sexo em primeiro plano e tratar o prazer feminino sem rodeios, a série desestabiliza convenções ainda prevalentes na televisão americana dos anos 1990. Episódios abordam com naturalidade temas como fetiches, insegurança emocional, relações de poder e autonomia, quase sempre com um tom de sátira, mas com uma compreensão aguçada dos impasses emocionais que definem a vida adulta.
Do ponto de vista técnico, a direção dos episódios ainda transita entre uma estética quase documental e um uso excessivo de narração, recurso que se tornaria mais orgânico nas temporadas seguintes. O formato se mostra irregular, com uma linguagem visual ainda em desenvolvimento, mas há consistência na forma como Nova York é integrada como personagem: a cidade serve como extensão dos desejos, frustrações e contradições das protagonistas.
A atuação de Sarah Jessica Parker assume papel central, com uma performance que combina afetação e empatia. Mesmo quando Carrie toma decisões questionáveis, a escrita e a atuação não impõem julgamento moral. O mesmo vale para as outras personagens, que crescem em complexidade à medida que a série avança. Samantha, inicialmente apresentada como a figura hipersexualizada do grupo, rapidamente se revela como uma das personagens mais consistentes em sua autonomia e liberdade.
Embora a série tenha recebido críticas mistas em sua estreia, com parte da imprensa desconfortável com o teor sexual ou com o retrato cínico do amor, é justamente esse deslocamento do convencional que confere relevância histórica à obra. Os diálogos rápidos, os enquadramentos centrados na estética fashionista e o humor agridoce servem de vitrine para um produto que sabia exatamente qual público queria atingir: mulheres urbanas, instruídas, profissionais, frequentemente deixadas à margem pelas representações tradicionais da televisão americana.
A primeira temporada de “Sex and the City” é um registro claro de sua época, com os vícios e virtudes de uma cultura em transição. Ainda que o roteiro inicialmente flerte com o didatismo e que alguns episódios envelheçam mal em termos de linguagem ou abordagem, o impacto da série permanece incontestável. Mais sátira do que sitcom, mais ensaio urbano do que novela romântica, o programa soube rir de si mesmo enquanto expunha as fraturas da vida adulta com uma franqueza inédita. Ao revisitá-la, especialmente à luz de seu revival em “And Just Like That…”, torna-se evidente o quanto a primeira temporada inaugurou um novo paradigma de representação feminina na televisão premium dos Estados Unidos.
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