“Sob a Escuridão do Sol” chega à Netflix com aquele magnetismo irresistível dos thrillers franceses que brincam perigosamente com nossos instintos. Logo de cara, a série convida o público para passear pelos campos ensolarados da Provença, carregados de lavanda e promessas de vida tranquila. Mas basta alguns minutos para o cheiro doce das flores se misturar ao perfume ácido da suspeita, do medo e de uma intrincada teia familiar onde o passado se recusa a ficar enterrado.
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A trama coloca Alba, interpretada por Ava Baya, como o centro desse labirinto. É uma jovem mãe tentando recomeçar, fugindo de cicatrizes antigas, que desembarca numa fazenda para trabalhar colhendo flores. O emprego parece quase terapêutico, um respiro para quem busca reconstruir os pedaços. Só que a serenidade desaba rápido. O patriarca da rica família dona do local é assassinado, e Alba, recém-chegada, vira alvo instantâneo da desconfiança geral. A narrativa poderia seguir o caminho seguro do “quem matou?”, mas faz questão de virar a faca: descobre-se que o morto era, na verdade, pai biológico de Alba, e que tinha acabado de incluí-la em seu testamento. Um quarto de toda a fortuna agora está no colo dela, um “detalhe” que transforma suspeita em sentença.
É aí que “Sob a Escuridão do Sol” revela seu veneno. Alba não só precisa provar que não matou o homem, mas lutar para continuar viva. Porque, numa família tão acostumada a guardar esqueletos dentro de armários luxuosos, uma herdeira inesperada significa um risco que precisa ser eliminado. Não faltam recados sombrios, sussurrados entre taças de vinho e sorrisos educados. Aqui, todos usam máscaras, como alguém avisa a Alba em tom profético.
O roteiro de Nils-Antoine Sambuc é afiado o suficiente para não deixar o público confortável em nenhum momento. Mesmo Alba carrega uma história nebulosa, o que impede a gente de classificá-la puramente como vítima. Essa ambiguidade é vital para manter o suspense pulsando. Há uma tensão constante em se perguntar o quanto ela mesma é confiável, o quanto já foi moldada por segredos antes mesmo de chegar à fazenda provençal.
Visualmente, a série é um espetáculo à parte. A câmera percorre vinhedos, campos roxos, estradinhas rurais e mansões de pedra aquecidas pelo sol dourado. É quase cruel ver tanta beleza enquadrar uma sucessão de mentiras, chantagens e violência. O “sol escuro” do título internacional não é força de expressão. É metáfora perfeita para um mundo onde a luz intensa faz questão de projetar sombras igualmente intensas.
O elenco também ajuda a consolidar o clima de tragédia elegante. Isabelle Adjani, verdadeira lenda do cinema francês, empresta uma autoridade magnética que faz o ar pesar sempre que aparece. Ava Baya, que vai construindo carreira de forma sólida, segura a bronca do protagonismo com uma mistura precisa de fragilidade e força. Guillaume Gouix e Thibault de Montalembert completam o jogo de intrigas com olhares que dizem mais que páginas de roteiro.
“Sob a Escuridão do Sol” tem aquela assinatura do thriller psicológico francês que sabe dosar veneno com poesia. Nada é exagerado, nada é gritado, mas tudo carrega tensão. É um retrato sutil e ao mesmo tempo implacável da podridão que se instala em famílias poderosas, da forma como o dinheiro corrompe e das consequências inescapáveis de segredos guardados por gerações.
No fim das contas, é o tipo de série que deixa o espectador desconfiado até do vento que balança os campos de lavanda. E é exatamente isso que faz dela uma experiência tão boa de acompanhar. A Provença nunca pareceu tão linda… e tão perigosa.
“Sob a Escuridão do Sol” (2025)
Criado por Nils-Antoine Sambuc
Elenco: Isabelle Adjani, Ava Baya, Guillaume Gouix
Disponível na Netflix
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