Crítica: St. Vincent, “All Born Screaming”

Crítica: St. Vincent, “All Born Screaming”

Crítica: St. Vincent, “All Born Screaming”

A artista St. Vincent está de volta, e com “All Born Screaming“, Annie Clark não só reivindica seu lugar no topo da cena musical alternativa, como também redefine o significado de intensidade emocional. Lançado em 26 de abril de 2024, pela sua própria gravadora, Total Pleasure Records, este é um álbum que grita, não apenas em seu título, mas em cada faixa, em cada batida, como se fosse um reflexo de uma alma que decidiu expor suas profundezas ao mundo sem medo.

Crítica: St. Vincent, “All Born Screaming” | Foto: Reprodução

Clark já havia nos preparado para algo especial quando, em fevereiro de 2024, descreveu o álbum como “pop pós-praga“, um gênero que soa tão enigmático quanto promissor. Mas o que realmente encontramos aqui é algo muito mais visceral. “All Born Screaming” é uma cápsula de experiências humanas em seu estado mais cru. De certa forma, é como se a própria pandemia tivesse moldado o álbum, fazendo com que Clark mergulhasse em sua criatividade como nunca antes, transformando a escuridão em arte.

Desde os primeiros sintetizadores de “Broken Man”, a atmosfera densa e industrializada já nos agarra pela garganta. Lançada em fevereiro, essa faixa de rock industrial não veio para passar despercebida. O clipe, dirigido por Alex Da Corte, nos mostra St. Vincent em chamas, como uma fênix renascendo das cinzas, e isso é exatamente o que se sente ao ouvir o disco na íntegra. Há algo de incontrolável e caótico em cada nota, em cada grito. E “Flea“, lançada em março, apenas confirma essa transformação sonora. Não estamos mais ouvindo a St. Vincent de “Masseduction” ou “Daddy’s Home”, estamos diante de uma artista que se metamorfoseou.

Ao longo do álbum, colaborações de peso se destacam – Dave Grohl, Cate Le Bon, Josh Freese, Justin Meldal-Johnsen… – mas, no final, tudo soa como um produto puramente St. Vincent. E é exatamente isso que Annie Clark queria. Produzido inteiramente por ela, “All Born Screaming” marca o momento em que Clark assume as rédeas de sua própria narrativa. Ela comentou que havia sons na sua cabeça que só ela poderia transmitir. E você sente isso – um domínio absoluto sobre cada nuance do disco, como se ela estivesse pintando sua própria paisagem sonora, sem interferência externa.

Gravado em estúdios de Los Angeles, Nova York e Chicago, o álbum carrega um peso quase existencial. Em certos momentos, ele parece estar à beira do colapso, apenas para nos puxar de volta com ganchos melódicos que soam como um respiro de alívio. Faixas como “Big Time Nothing“, com seu groove dance-pop funky, parecem brincar com a própria ideia de nostalgia, trazendo à mente o auge das raves londrinas dos anos 90. No entanto, o que se sobressai é a energia inquieta, o fatalismo que permeia o álbum inteiro.

Clark também não economiza em sinceridade. Sua homenagem à produtora Sophie em “Sweetest Fruit” é uma das faixas mais comoventes do disco, repleta de uma dor quase tangível. É um lembrete de que, embora “All Born Screaming” seja uma obra poderosa e audaciosa, ele também é profundamente humano. St. Vincent nos entrega um álbum que aborda a vida em todas as suas contradições – beleza e brutalidade, esperança e desespero. E tudo isso é feito com uma honestidade que corta fundo.

Se o disco anterior, “Daddy’s Home“, já demonstrava uma artista em constante evolução, “All Born Screaming” é o ápice de uma jornada que mistura vulnerabilidade e controle total. Clark está nos convidando para dentro de seu mundo, mostrando cicatrizes e traumas, mas também celebrando o fato de estar viva para contar essa história. Nas palavras dela: “Todos nascemos gritando“, e é esse grito que nos mantém conectados ao que significa estar vivo. “All Born Screaming” é o som dessa conexão, e é impossível não se deixar levar.

Nota final: 100/100

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