É fácil subestimar uma série sobre golfe. Especialmente quando o protagonista é interpretado por Owen Wilson e a premissa envolve a clássica dinâmica de um ex-atleta fracassado tentando treinar um prodígio rebelde. Mas “Stick”, apesar dos tropeços narrativos e escolhas de roteiro discutíveis, surpreende ao construir uma história que equilibra emoção, fragilidade masculina e redenção sem forçar o sentimentalismo barato.
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A série, criada por Jason Keller, acompanha Pryce Cahill (Wilson), um ex-golfista profissional que desapareceu do circuito após um trauma pessoal mal resolvido. Duas décadas depois, com a vida em ruínas, ele decide apostar tudo em Santi (Peter Dager), um jovem de 17 anos tão promissor quanto difícil de lidar. O que se desenrola não é apenas uma jornada de superação esportiva, mas também um mergulho nas rachaduras emocionais de dois homens em busca de identidade, pertencimento e segunda chance.
A grande força de “Stick” está na relação central entre Pryce e Santi. Não há fórmulas prontas, nem redenções fáceis. A série evita cair no lugar-comum do treinador salvador e do pupilo que só precisava de disciplina. Santi é arrogante, instável e muitas vezes insuportável. Pryce é melancólico, impulsivo e amargurado. E é justamente nesse terreno conflituoso que a série encontra ressonância.
Ao longo dos episódios, o roteiro se permite explorar as inseguranças masculinas de forma honesta. O luto de Pryce, a relação com o filho morto e a dificuldade em aceitar o fracasso profissional são tratados com delicadeza. Há momentos em que a série se aproxima de uma sensibilidade quase indie, especialmente quando prioriza o silêncio, os olhares e os pequenos gestos em vez de diálogos expositivos.
Peter Dager entrega uma atuação que oscila entre o carisma bruto e a vulnerabilidade latente. Owen Wilson, por sua vez, mostra que sabe ser mais do que o alívio cômico que Hollywood tanto explorou. Aqui, ele trabalha no limite da contenção, construindo um personagem ferido que luta diariamente contra a tentação de desistir de tudo.
Ainda assim, “Stick” não escapa de deslizes. O roteiro, especialmente na reta final, parece acelerar soluções e forçar conflitos que não estavam suficientemente preparados. O surgimento abrupto de Amber-Linn, a subtrama envolvendo traição e o arco de Santi com o personagem Clark Ross soam artificiais e comprometem a coerência emocional construída até então.
O maior problema da série é a dificuldade em dar coesão aos seus coadjuvantes. Boa parte deles existe apenas para servir de obstáculo moral aos protagonistas, mas com tão pouca complexidade que beiram a caricatura. Clark, por exemplo, é vendido como o vilão da história, mas é difícil sentir antipatia real por ele quando tantos outros ao redor são igualmente egocêntricos e pouco empáticos.
Apesar desses percalços, “Stick” tem coração. E isso pesa. O humor contido, o uso inteligente da estética esportiva e a relação entre trauma, performance e reconstrução pessoal fazem da série uma grata surpresa para quem busca histórias de recomeço sem moralismo raso.
Há algo de bonito no modo como o golfe se transforma em metáfora para o equilíbrio emocional: exige precisão, paciência, controle e, sobretudo, aceitação dos erros. No fundo, “Stick” é sobre isso. Sobre errar, recomeçar e, quando tudo parece perdido, achar o caminho de volta. Mesmo que seja pelo rough.
“Stick”
Direção: Jason Keller
Elenco: Owen Wilson, Peter Dager, Lilli Kay
Disponível em: Apple TV+
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