Existe algo curioso em como o documentário “That Peter Crouch Film” transforma um jogador improvável em figura de culto. Não por ter sido um craque dos números, tampouco um ídolo de torcida tradicional. Peter Crouch virou referência porque soube rir de si mesmo antes que o mundo risse dele, e esse movimento não só blindou sua sanidade como moldou a imagem de um dos ex-atletas mais carismáticos da Inglaterra moderna.
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O filme não tenta esconder o óbvio: Crouch sempre foi uma anomalia ambulante dentro do futebol profissional. Alto demais, magro demais, estranho demais. Um corpo que parecia mais pronto para um comercial de suplemento de cálcio do que para enfrentar defensores em uma Premier League brutal. E ainda assim, ele chegou lá. Contra as probabilidades, contra a expectativa de técnicos e contra o desprezo sistemático de torcedores e colegas que jamais enxergaram nele uma estrela.
O documentário caminha com leveza, mas sem superficialidade. Há uma honestidade desconfortável em certos trechos, especialmente quando o próprio Crouch expõe como o bullying visual e a humilhação pública o marcaram, mesmo quando já usava uma camisa da seleção inglesa. A narração não pede pena nem se escora em trauma para justificar o sucesso. O foco é outro: mostrar que, mesmo no centro da máquina que devora egos e fabrica lendas, ainda há espaço para alguém vencer sendo autêntico.
É aí que “That Peter Crouch Film” brilha. Ele sabe que seu protagonista nunca foi um herói clássico. E não tenta editá-lo como tal. Ao invés disso, a obra se ancora na personalidade do ex-jogador, na sua autoconsciência, nas piadas de mau gosto que ele devolvia com elegância e no jeito estranho como ele virou símbolo da cultura pop britânica. A jornada passa longe de ser sobre títulos ou gols decisivos. É sobre identidade, autoaceitação e a capacidade de transformar uma fraqueza pública em um carisma de massa.
É verdade que o filme pouco acrescenta ao que os leitores do livro “How To Be A Footballer” já conhecem, ou mesmo ao conteúdo das suas aparições no podcast. Mas a graça está em reviver essa trajetória agora sob o olhar dos colegas, familiares e antigos críticos. O documentário amplia a conversa quando inclui outros atletas que também foram ridicularizados por sua aparência ou postura, como Luke Chadwick e Graeme Le Saux. Esse recorte pode parecer lateral, mas adiciona densidade ao projeto.
Não é uma obra cinematográfica espetacular. Está longe disso. A estrutura é padrão, os depoimentos seguem aquele ritmo previsível de “ascensão-quase-queda-consagração”, e não há grandes ousadias estéticas. Mas isso não incomoda. Porque a força de “That Peter Crouch Film” está em sua simplicidade. E em como essa simplicidade espelha exatamente quem foi seu personagem central.
Aos olhos de quem nunca ligou muito para futebol, pode parecer apenas mais um documentário esportivo com mensagens motivacionais. Só que ele vai além. Não por querer ser mais profundo, mas por reconhecer que o que emociona não são os grandes feitos, e sim o modo como alguém fracassa e ainda assim segue caminhando. Peter Crouch falhou com estilo. Venceu sem precisar se encaixar. E isso basta.
“O Filme de Peter Crouch”
Direção: Benjamin Hirsch
Elenco: Peter Crouch, Abbey Clancy, Jamie Carragher, Steven Gerrard, Sven-Göran Eriksson, Luke Chadwick, Bruce Crouch
Disponível em: Prime Video
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