Vamos ser sinceros: 16 anos de espera por um álbum do The Cure é, no mínimo, uma provação para qualquer fã. Era quase como se Robert Smith quisesse brincar com a nossa paciência, enquanto ele e sua turma continuavam a rodar o mundo em turnês, como se não fosse grande coisa. Mas aqui estamos, finalmente com um novo álbum, e olha, a espera parece ter valido a pena.
“Songs of a Lost World” traz uma carga intensa que transborda aquela melancolia sombria e poética que tornou a banda icônica. O curioso é que todas as músicas aqui são compostas exclusivamente por Smith, algo que não acontecia desde “The Head on the Door” (1985), e o resultado é um álbum mais pessoal, um retrato fiel dos fantasmas que rondam a mente de Smith. E quem esperou, esperou pelo melhor: há uma sinceridade brutal no jeito como ele canta sobre perda, passagem do tempo e até sobre questões globais que afligem nosso presente e futuro.
No álbum, The Cure não se prende à leveza. Pelo contrário, o que temos aqui são músicas bem complexas, com uma produção que pega pesado e um toque quase apocalíptico. Faixas como “Alone” e “Warsong” jogam você direto em um clima de ansiedade e incerteza. É impossível ouvir sem sentir aquele peso no peito, algo que os fãs de “Disintegration” vão reconhecer instantaneamente. Só que aqui, essa melancolia é mais impactante, com guitarras precisas de Reeves Gabrels (finalmente oficializado no time), que trazem um tom mais direto e menos etéreo que trabalhos passados.
Smith sempre teve uma habilidade assustadora para transformar dor em arte, e “Songs of a Lost World” não é diferente. De luto pela perda do irmão em “I Can Never Say Goodbye” à sombria despedida de “Endsong“, ele nos leva a uma jornada pela tristeza e aceitação. Não é um álbum fácil, e nem é para ser. É um mergulho na alma de alguém que sempre viu a música como um refúgio, mas também como um espelho.
Muita gente torceu o nariz para a mixagem nos primeiros singles lançados, e confesso que eu fui um deles. Estava esperando algo mais atmosférico, mas ao ouvir o álbum completo, tudo fez sentido. A compressão pesada dá um ar de urgência e claustrofobia que combina com as letras e temas. Se “Disintegration” era uma chuva fina e contínua, “Songs of a Lost World” é um dilúvio, algo mais concreto e mais imediato.
E agora, o que esperar de The Cure? Robert Smith fala em novas músicas e deixa os fãs à beira da dúvida. “Songs of a Lost World” soa como uma despedida digna, sim, mas talvez seja só o final de um ciclo e o começo de outro. Se este for o último trabalho, é uma despedida impecável. Se não for, então temos muito mais a esperar dessa fase criativa.
“Songs of a Lost World” é aquele vinho bem envelhecido que traz de volta toda a nostalgia e ainda tem uma surpresa na última nota. É sombrio, é belo e, mais uma vez, The Cure entrega o que só eles sabem: uma mistura intensa de poesia e profundidade que deixa os ouvintes entre a euforia e a tristeza.
O The Cure está de volta.
Nota final: 90/100