Ridley Scott é um diretor lendário, e isso é inegável. Ele tem uma capacidade rara de capturar visualmente a grandiosidade e o espetáculo como poucos, e “Gladiador II” prova que, mesmo aos quase 87 anos, Scott ainda tem energia para criar filmes com escala e ambição épicas. Mas onde “Gladiador” (2000) construiu seu status icônico com uma trama intrigante e personagens profundos, esta sequência tropeça ao oferecer algo que, apesar de visualmente deslumbrante, carece de um núcleo realmente inovador.
Visualmente, o filme é magnífico. Scott e o diretor de fotografia John Mathieson (que também trabalhou no primeiro filme) utilizam cores ricas e luz natural para intensificar a experiência visual, mas sem abandonar a paleta de tons de azul, amarelo e marrom que marcou o original. Mathieson explora planos amplos de desertos e paisagens de batalha com atenção aos mínimos detalhes, desde o reflexo da luz nas armas até o rastro de poeira deixado pelos soldados. É como se ele quisesse trazer o espectador para dentro daquela Roma antiga, onde cada sombra conta uma história e cada brilho de ouro simboliza o poder.
Paul Mescal, no papel de Lucius, o protagonista desta vez, está bem posicionado para carregar o manto deixado por Russell Crowe. Conhecido por seus papéis mais intimistas, como em “Aftersun” e “Normal People“, Mescal surpreende ao trazer fisicalidade e intensidade ao personagem, sem perder a vulnerabilidade que o tornou famoso. Ele transita entre a ferocidade do guerreiro e a delicadeza de um homem atormentado, recitando poesias com uma paixão quase shakespeariana e enfrentando seus inimigos com um desespero que nos lembra o icônico Maximus.
Mas se visualmente o filme é impressionante, seu enredo não alcança a mesma profundidade. A narrativa se baseia em uma premissa muito simplista, onde falta o senso de complexidade e surpresa que tornou o primeiro filme inesquecível. A história de vingança de Lucius é previsível, e a trama se desenrola como uma sequência de eventos esperados, sem os dilemas morais e reviravoltas emocionantes que caracterizaram o arco de Maximus. O antagonista Macrinus, interpretado por Denzel Washington, é uma figura intrigante e vilanesca, mas o roteiro de David Scarpa oferece poucos momentos realmente intensos que desenvolvam o conflito além da ação física.
E quanto à trilha sonora de Harry Gregson-Williams? Ela tenta seguir os passos da épica trilha de Hans Zimmer, mas falta-lhe a mesma ousadia. Williams busca atmosferas com instrumentos de época, como o carnyx e violinos operísticos, mas há algo que soa derivado, faltando o mesmo poder de marca que Zimmer imprimiu no original.
A produção visualmente deslumbrante de Arthur Max, colaborador frequente de Scott, ajuda a capturar o lado tátil e vívido de Roma. Seja no Coliseu (que ganha uma sequência de batalha naval impressionante) ou nas aldeias e fortalezas, a direção de arte proporciona um realismo que eleva as cenas, mas que infelizmente contrasta com a superficialidade de alguns dos conflitos.
O longa definitivamente cumpre seu papel como entretenimento de qualidade, mas não consegue igualar o peso emocional e a profundidade do original. É um espetáculo de imagens, de lutas e performances intensas, mas falta-lhe a aura lendária que “Gladiador” alcançou. É uma pena ver que, apesar de Scott ainda ser um mestre das paisagens visuais e dos épicos, ele parece cada vez mais preso a fórmulas de impacto visual, mas com menor substância dramática. É um bom blockbuster, mas longe de ser uma nova lenda.
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