Crítica: The Offspring, “Supercharged”

O lançamento de Supercharged, o décimo primeiro álbum de estúdio da icônica banda punk rock The Offspring, marca um ponto significativo na trajetória da banda. Produzido por Bob Rock, o disco chega em um momento de renovação, trazendo a energia característica do grupo, ao mesmo tempo que apresenta novas influências.

Logo de início, fica claro que a produção robusta de Bob Rock, que já colaborou com o grupo em três álbuns anteriores, permanece como uma força motriz, ainda que alguns aspectos da mixagem mereçam questionamentos. O retorno de Todd Morse como membro oficial, aliado à estreia do multi-instrumentista Jonah Nimoy e do baterista Brandon Pertzborn, estabelece uma base sólida, mas é a presença de Josh Freese na bateria que também se destaca, acrescentando nuances técnicas que enriquecem algumas das faixas mais energéticas.

Crítica: The Offspring, “Supercharged” | Foto: Reprodução

“Supercharged” é impulsionado pela energia das guitarras afiadas de Noodles, e, como o próprio título sugere, o álbum busca capturar essa carga elétrica do começo ao fim. Dexter Holland, em sua liderança vocal, talvez não atinja a crueza de seus anos de ouro, mas é inegável que sua voz — mesmo marcada pelo tempo — encontra um equilíbrio notável entre melodia e potência, muitas vezes escondendo as falhas com um trabalho meticuloso de efeitos. Contudo, fica evidente que a banda faz o possível para compensar as limitações vocais sem perder a força.

As faixas de destaque começam com os singles “Make It All Right”, “Light It Up”, e “Come to Brazil”, que exemplificam o espírito híbrido do álbum. Noodles, ao mencionar que o trabalho traz “um pouco do antigo e do novo”, acerta em cheio ao descrever a fusão de sonoridades que vai do punk cru ao pop-punk mais acessível. “Make It All Right”, no entanto, decepciona em alguns aspectos, especialmente pelo uso da voz de fundo monotônica que soa deslocada. O refrão é onde a música realmente ganha força, mas o contraste entre as duas partes da faixa poderia ter sido melhor trabalhado. O mesmo pode ser dito de “Come to Brazil”, uma brincadeira que funciona pela metade, divertida na superfície, mas que corre o risco de soar datada em breve, uma vez que a piada-meme possa perder relevância.

Contudo, é em faixas como “The Fall Guy”, “Get Some”, “Hanging by a Thread” e “Light It Up” que o álbum realmente brilha. Nesses momentos, a banda consegue capturar a essência do skate punk, com guitarras enérgicas e ritmos acelerados que remetem aos seus melhores dias. Noodles apresenta um trabalho criativo, especialmente nas guitarras, que elevam o nível das composições e fazem destas faixas os pontos altos do álbum.

Por outro lado, o álbum não escapa completamente das críticas recorrentes dirigidas à produção dos últimos discos do The Offspring. A produção “fina” e às vezes superficial ainda persiste como um problema, e a escolha de Bob Rock para mixar novamente levanta dúvidas sobre como um outro produtor poderia revitalizar ainda mais o som da banda. Mesmo com as críticas à produção, é preciso destacar que o nível de energia e inspiração presente em “Supercharged” é bem superior ao trabalho anterior, Let the Bad Times Roll.

O que faz deste disco um ponto de virada positivo é justamente o fato de não haver fillers ou faixas descartáveis. Diferente de trabalhos anteriores, onde momentos pouco inspirados se mesclavam a canções de grande impacto, aqui temos dez músicas completamente originais e, ao menos em sua maioria, bem estruturadas. Esse retorno à forma, após um período de turbulências internas e mudanças de lineup, é um feito notável. Como o próprio Holland afirma, o álbum reflete “a vida que compartilhamos e onde estamos agora”, e isso transparece nas letras e nas composições.

A crítica que permanece é a de que algumas faixas ainda carecem de um acabamento mais refinado, como em “OK, But This Is the Last Time”, onde os instrumentos soam “finos” e destacam demais os efeitos na voz de Dexter. No entanto, faixas como “The Fall Guy” e “Light It Up” compensam qualquer deslize, tornando o álbum, como um todo, uma obra que celebra a resiliência e a capacidade de reinvenção da banda.

Nota final: 75/100

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