“Tron: Ares” é uma tentativa de reativar um universo que sempre existiu entre o fascínio tecnológico e o vazio narrativo. O novo capítulo da franquia traz Ares, um programa digital que ganha forma no mundo real e precisa lidar com o colapso entre códigos e consciência. A premissa ainda é a mesma que há quarenta anos move essa saga: a fronteira tênue entre homem e máquina, agora revestida por um verniz mais sombrio, corporativo e esteticamente impecável.

Joachim Rønning transforma “Tron” em um espelho do nosso tempo, um reflexo direto da era em que algoritmos não são mais abstrações, mas organismos que definem comportamento, arte e consumo. É curioso perceber que o próprio filme parece consciente disso: ele é um produto feito por máquinas sobre a própria humanidade que insiste em programar emoções. E talvez esse seja o ponto mais irônico de “Ares”: ele fala sobre inteligência artificial enquanto se comporta como uma.
A trama acompanha o programa Ares, interpretado por Jared Leto, que cruza o limite entre o digital e o humano em busca do chamado “código da permanência”. O objetivo é simples: criar algo que dure mais do que o efêmero dos 29 minutos digitais. Mas essa busca por eternidade é também a metáfora da própria Disney tentando entender o que fazer com “Tron”. Desde 1982, a franquia vive como um arquivo corrompido, reaberto de tempos em tempos para ver se ainda é possível extrair algo relevante.
Enquanto o primeiro “Tron” era um delírio visual que antecipava o futuro, “Tron: Legacy” (2010) transformou esse delírio em espetáculo de neon e som. Agora, “Ares” tenta atualizar a equação com uma estética fria e uma trilha sonora industrial assinada por Trent Reznor e Atticus Ross, substituindo a grandiosidade eletrônica do Daft Punk por uma textura mais orgânica, quase suja. O resultado é visualmente poderoso, mas emocionalmente raso.
O filme entende o presente, mas não sabe o que fazer com ele. A inteligência artificial aqui é menos uma reflexão e mais um pretexto para uma aventura visual sobre o vazio. Rønning e o roteirista Jesse Wigutow até ensaiam um discurso sobre responsabilidade tecnológica, mas tudo se perde em uma estrutura que parece escrita por um software de narrativa previsível. Greta Lee, como a CEO visionária da ENCOM, e Evan Peters, como o herdeiro irresponsável da Dillinger Systems, até tentam imprimir nuances a esse embate, mas o roteiro trata ambos como avatares de ideias que nunca se desenvolvem por completo.
Ares, o personagem de Leto, é um símbolo dessa limitação. Ele nasce como código e tenta se tornar humano, mas o filme parece incapaz de decidir o que isso significa. Há momentos em que sua jornada lembra a de um Frankenstein digital, em outros, um messias tecnológico, e em vários, apenas uma figura fria tentando existir entre dois mundos que já não se distinguem.
A maior contradição de “Tron: Ares” está justamente na sua proposta. Ele fala sobre permanência, mas vive do efêmero. Quer discutir a ética das máquinas, mas depende delas para existir. Quer emocionar, mas escolhe a superfície da estética ao invés da profundidade das ideias. Ainda assim, há algo de intrigante nessa obstinação. A cada novo filme, “Tron” se reinventa para continuar sem nunca encontrar seu verdadeiro propósito.
Quarenta e três anos depois, talvez seja essa a essência da franquia: a busca eterna por significado dentro de um sistema que não sabe mais por que foi criado. “Tron: Ares” não resolve o dilema, mas mantém o loop ativo e isso, no fim das contas, é o que mantém a luz acesa dentro da grade.
“Tron: Ares”
Direção: Joachim Rønning
Roteiro: Jesse Wigutow
Elenco: Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters
Disponível nos cinemas a partir de 9 de outubro de 2025.
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