Há filmes que não precisam de pirotecnia, explosões ou diálogos de efeito para tocar fundo. “Um Homem Abandonado” é desses. A obra turca traz um drama íntimo, seco, mas carregado de humanidade, que fala sobre culpa, família e o peso de carregar uma vida que não era para ser sua. Logo de início somos colocados diante de Baran, um jovem que assume o crime cometido pelo próprio irmão e passa anos na prisão por algo que não fez. Essa premissa, que poderia facilmente virar um melodrama batido, ganha outra dimensão nas mãos de um elenco inspirado e de uma direção que aposta na simplicidade para extrair força.
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O que mais chama atenção aqui é como o filme entende que a maior violência não está nos atos explícitos, mas no silêncio que corrói. Baran volta para fora das grades com um medo maior do que qualquer castigo: reencontrar a própria família. Como encarar os rostos que deixaram cicatrizes invisíveis? É nesse momento que surge a figura inesperada de sua sobrinha, pequena e desarmada de preconceitos, oferecendo um olhar de ternura capaz de quebrar a couraça mais rígida. Essa relação lembra aquelas parcerias improváveis do cinema, como em “O Profissional” ou mesmo em “A Vida é Bela”, onde a inocência infantil funciona como resistência diante de um mundo cruel.
Mert Ramazan Demir, no papel de Baran, entrega uma performance que transborda verdade. Não há espaço para exagero, nem para maneirismos. Ele simplesmente está lá, carregando cada olhar com camadas de dor e esperança. É curioso pensar como alguns atores, em um único papel, parecem renascer artisticamente. Aqui, Mert encontra seu ponto de virada. Ele nos faz acreditar na jornada de um homem destruído por dentro, mas ainda capaz de se reconstruir pelo afeto.
A direção abraça o silêncio como ferramenta narrativa, e a música aparece como respiro em momentos pontuais, sem jamais tentar manipular o espectador. O ritmo é calmo, por vezes contemplativo, como se o tempo do filme fosse o mesmo tempo necessário para que Baran aceitasse sua nova chance. Há ecos de um cinema europeu mais intimista, mas com a identidade turca pulsando na forma de contar a história, no peso das escolhas familiares e na dureza de um sistema que deixa marcas eternas.
No fim, “Um Homem Abandonado” não é só sobre culpa ou injustiça, mas sobre como até mesmo nas ruínas pode nascer algo de belo. É um filme sobre segundas chances, sobre encontrar abrigo onde menos se espera e sobre como a esperança pode ser, afinal, o maior ato de resistência. Para quem busca uma narrativa que não subestima o público, que prefere sugerir em vez de gritar, este é um drama que merece ser descoberto.
“Um Homem Abandonado”
Direção: Nisan Dağ
Roteiro: Deniz Madanoğlu, Murat Uyurkulak
Elenco: Mert Ramazan Demir, Ercan Kesal
Disponível em: Netflix
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