Sob a direção de Maura Delpero “Vermiglio” é um drama que se desenrola com a delicadeza de uma carta escrita à mão, mas com a força de quem sabe onde quer chegar. Ambientado em 1944, em uma remota aldeia alpina no norte da Itália, o filme utiliza a iminência do fim da Segunda Guerra Mundial como pano de fundo, mas é no microcosmo da comunidade que o verdadeiro conflito acontece. Aqui, o público é apresentado a Pietro (Giuseppe De Domenico), um jovem soldado siciliano que, após salvar um companheiro ferido, encontra abrigo e, eventualmente, amor na vila. Esse amor é mais que uma história de dois corações que se encontram, mas uma ruptura nas dinâmicas sociais e culturais profundamente enraizadas.
O filme apareceu em previsões de renomadas publicações, como a Variety. Além disso, segue em campanha para a premiação do Oscar, marcada para março de 2025.
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O enredo se articula em torno de Pietro e Lucia (Martina Scrinzi), cuja atração mùtua rapidamente se transforma em paixão e, posteriormente, em uma decisão que desafia as convenções locais: o casamento. Este é o catalisador que coloca em evidência os preconceitos, a misoginia e a intolerância presentes na aldeia. A relação entre os dois incomoda profundamente e desnuda a fragilidade de uma estrutura social que se esconde por trás da aparente tranquilidade do isolamento alpino. A partir do momento em que a união do casal é anunciada, o que antes parecia um cotidiano harmonioso rapidamente revela sua verdadeira face: uma sociedade repleta de feridas da guerra e de preconceitos que vão muito além do conflito global.
Maura Delpero aborda essas tensões com um olhar que evita julgamentos ou simplificações. Em vez disso, ela se preocupa em mostrar como esses elementos se manifestam de maneira quase natural dentro daquela comunidade. O trabalho da diretora é claro ao escancarar como a intolerância e o preconceito funcionam como engrenagens que operam em harmonia com o desejo de manter a ordem, mesmo que às custas do progresso humano e emocional. Pietro, como estrangeiro, e Lucia, como mulher que ousa sair das normas, tornam-se símbolos de resistência, mas o filme os trata antes como pessoas, com desejos, dúvidas e limitações.
As atuações são um dos maiores méritos do filme. Giuseppe De Domenico interpreta Pietro com uma dualidade fascinante, transitando entre a imagem do herói acolhido pela comunidade e a figura de um homem inseguro em relação ao seu lugar no mundo. Martina Scrinzi traz a Lúcia uma intensidade que nunca é exagerada, mas que traduz a força e a fragilidade de uma jovem que busca algo além do que a vida lhe oferece. Os momentos entre os dois, muitas vezes silenciosos, carregam mais tensão e significado do que qualquer diálogo poderia transmitir.
O filme é uma análise minuciosa das relações humanas em uma época de mudanças. As dinâmicas familiares e sociais são postas à prova, expondo os conflitos geracionais e as barreiras impostas por tradições sufocantes. A escolha de Delpero em não apressar essas revelações, permitindo que os personagens e a história se desenvolvam de forma gradual é arriscada, mas eficaz. Para alguns, o ritmo lento pode ser um desafio, mas é justamente nessa cadência que “Vermiglio” encontra sua força. Cada cena parece uma peça em um quebra-cabeça emocional, e o espectador é convidado a montar essa imagem junto com os personagens.
É impossível ignorar o peso visual do filme. “Vermiglio” transforma cada quadro em um retrato de época, com uma direção de fotografia que captura a beleza e o isolamento das montanhas italianas. A composição das cenas, com seus contrastes entre o branco da neve e o calor dos interiores, reflete o embate entre a dureza externa e a fragilidade emocional dos personagens. A trilha sonora é um elemento essencial, amplificando a tensão e a melancolia sem jamais se sobrepor à narrativa.
“Vermiglio” é um filme sobre escolhas. Escolhas que desestabilizam, transformam e, muitas vezes, são necessárias para que algo mais verdadeiro possa emergir. Essa é uma obra que pede para ser revisitada, tanto para entender melhor seus personagens quanto para refletir sobre as tensões que ainda hoje permeiam sociedades aparentemente “tranquilas”. Delpero entrega um filme poderoso, que deixa marcas e que, como os melhores dramas, permanece em sua mente muito além dos créditos finais.
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