Fundada há quase 15 anos pelos irmãos baianos Victor e Alexandre Meira, a banda Bratislava lançou quatro discos, fez turnês pelo Brasil e tocou em grandes festivais como Lollapalooza, COMA, Bananada, Conexão e Festival DoSol. Se reinventando em lutos, lutas, poesia e dureza, a banda encara o momento como um fechamento de ciclo e espaço para um marco de recomeço: por isso, o novo disco homônimo.
A Bratislava surgiu em 2009 pela iniciativa dos irmãos Victor e Alexandre Meira de dar vazão às ideias musicais desenvolvidas nos anos anteriores ao início do projeto. Em 2011, a banda lançou seu primeiro registro, o EP “Longe do Sono“, gravado e lançado de forma independente. O álbum de estreia veio no ano seguinte, trazendo temáticas diversas nas letras das músicas.
Em 2014, o quarteto inaugurou o projeto “Converse Rubber Tracks” no Brasil, realizando a primeira gravação da programação. Em 2015, lançaram o álbum “Um Pouco Mais de Silêncio“, em formato de zine interativo produzido artesanalmente. O nome do álbum é um trecho da penúltima faixa do conjunto e fala da proposta do novo trabalho, mais pausado, contemplativo e atmosférico do que o anterior.
O quarto disco da Bratislava, “Parte Do Que Vem“, surgiu em 2022, após dois anos de pandemia nos quais a banda mergulhou num período criativo mais intenso e longo. O resultado vem carregado de nuances nostálgicas, doces e otimistas, narrando as primeiras impressões de quem sai de uma quarentena e, aos poucos, volta a pisar na rua.
Sobre o processo de produção do novo álbum, a banda compartilhou: “As faíscas para esse novo trabalho surgiram enquanto estávamos apresentando o “Parte Do Que Vem (2022)”, nosso álbum anterior. Foi com aquele trabalho que a gente consolidou a formação atual da banda e entendeu o tipo de arte que a gente queria fazer. “Parte Do Que Vem” foi fruto de um momento de muita vulnerabilidade, e resultou num disco carinhoso, afetuoso. Acho que fez muito sentido naquele contexto, mas na gira de shows a gente sentiu falta de algo que fazíamos nos shows dos discos anteriores, que era tocar sons mais desafiadores, guitarra distorcida… rock! Então isso foi um norte quando começamos a compor as canções do novo disco. Queríamos trazer de volta energia e bronca pro palco!“
O single “Casa em Chamas” aborda a sensação de paralisia em meio ao caos, semelhante à paralisia do sono. A banda explicou: “Existe uma condição psicológica chamada “Ausência”, e eu tenho uma amiga que tem essa condição. Ela fica mesmo ‘fora do ar’ por alguns momentos, pode estar conversando com você, ou no meio de uma tarefa, ela para, fica em silêncio e com o olhar vago, e volta sem perceber essa pausa. Fiquei pensando muito sobre isso quando entendi melhor a condição. E fiquei pensando também sobre como a gente, no dia a dia, mesmo quem é neurotípico, experimenta momentos parecidos, ou entra em negação e paralisia frente a fatos que estarrecem ou assombram a gente. “Casa em Chamas” aborda essa experiência.“
Após quase 15 anos de carreira, a Bratislava decidiu lançar um álbum homônimo, que eles descreveram como um marco de recomeço. Sobre essa decisão, a banda afirmou: “O homônimo é um statement, né? É, tipo: a gente é isso aqui, pessoal. Chegamos. Esse é o núcleo, a soma de tudo que fizemos até hoje, com o privilégio de aplicar todos os aprendizados que acumulamos ao longo do caminho também. Quando finalizamos as gravações, sentimos firmeza em enterrar essa bandeira no solo da nossa carreira. É um disco que visita sentimentos ásperos e abrasivos como o “Fogo (2017)”, um disco que não tem receio de soar poético – e às vezes um pouco hermético – como o Um Pouco Mais de Silêncio (2015), mas também um disco cheio de momentos acessíveis e fáceis de se ouvir, como o “Parte Do Que Vem (2022)”. Reúne que fomos, o que somos e o que queremos ser. Por isso se chama “Bratislava.”
Participar de grandes festivais como Lollapalooza e Bananada foi um marco importante na trajetória da banda. Eles refletem sobre essas experiências: “Tocar nesses grandes festivais foi um privilégio danado, deu muita visibilidade pra gente na época, muita gente descobriu nosso som ali. Isso traz um orgulho e uma responsabilidade que ressoa sim nos próximos passos da banda, na própria obra. Olhando pro futuro, a gente torce para que as novas músicas criem conexões bonitas e verdadeiras com quem for ouvir, essa é a coisa principal pra gente.“
Durante a longa jornada da banda, momentos engraçados e inesperados aconteceram. Eles compartilham algumas dessas histórias: “Já tocamos num trio elétrico, já tocamos covers numa churrascaria para financiar parte de uma turnê, já levamos um choque tão grande no palco que estorou corda de guitarra e queimou a mão do Jonas. Já erramos caminho na estrada e transformamos uma viagem de 5 horas numa de 9 horas. No comecinho da carreira, tocamos uma vez vendo o sol nascer para 2 pessoas e uma galinha. Já recebi muitos comentários de que meu jeito de cantar às vezes lembrava o Guilherme Arantes, até que o papo chegou nele e ele curtiu nosso som, falou que era um ‘estilo um pouco diferente, blueseiro, viajeiro’. Já vimos o nome da banda escrito de todo jeito, mas uma vez na fachada da casa de show escreveram BRITSLAVE (tipo uma versão de ‘Audioslave’ britânica?)”.