Comemorando 40 anos de uma trajetória intensa e apaixonada pelos palcos, Cesário Candhí é um nome fundamental do teatro brasileiro. Ator, dramaturgo e produtor, ele é natural do Nordeste e vive em Duque de Caxias (RJ), onde construiu uma carreira sólida e premiada. Formado em Artes Cênicas desde 1993, soma mais de 40 espetáculos no currículo, circulando por importantes palcos no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.
Com 16 textos teatrais autorais – dos quais 12 já foram encenados em diferentes estados – Cesário é também o fundador da Candhí Produções Artísticas, produtora que chega agora à marca simbólica de quatro décadas de atuação. Um marco que ele celebra em cena, no espetáculo “O Patinho Feio”, em cartaz no Teatro Raul Cortez. A peça, voltada ao público infantil, é uma releitura em formato de cordel do clássico conto, ambientada no sertão nordestino e assinada por Cesário ao lado de Beto Gaspari e Marcos Covask.
Cesário não só assina a dramaturgia como também interpreta seis personagens diferentes em cena, mostrando seu talento multifacetado. Com forte estética inspirada na cultura popular nordestina, a peça propõe uma reflexão profunda sobre diversidade, aceitação e pertencimento, encantando públicos de todas as idades.
Em entrevista, ele reflete sobre a importância do teatro na formação de crianças e adolescentes, revela os bastidores da criação coletiva do texto e comenta o desafio de conciliar atuação, dramaturgia e produção em um único projeto. Também compartilha o carinho especial por dois personagens cômico-afetivos da peça: a irreverente Galinha Severina e o sábio Jumento Genivaldo.
Para saber todos os detalhes, confira agora uma entrevista exclusiva com o artista:
Cesário, você está comemorando 40 anos de trajetória artística juntamente com as apresentações de “O Patinho Feio” no Teatro Raul Cortez. O que representa para você celebrar esse marco tão simbólico com um espetáculo voltado ao público infantil, e ainda por cima em uma produção própria?
Parece que foi ontem e lá se vão 40 anos. O teatro é o meu ofício, é o que me move. Depois de tanto tempo, continuar nos palcos é realmente significativo. Ainda mais com um espetáculo voltado para o público infantil. É a minha criança interior se enxergando nos olhos das crianças na plateia. Nos últimos anos tenho escrito muito para este público. E O Patinho Feio é especial, encantador e necessário. E além das minhas mãos na dramaturgia, também estou em cena interpretando seis personagens.
O que te motivou a adaptar “O Patinho Feio” para o formato de cordel e situar essa história no sertão nordestino?
O nosso Patinho, é na verdade, uma releitura. Não existe, como no conto original, o feio, o bonito. O nosso fala sobre diversidade, de ser diferente, se aceitar e ser aceito. Eu sou nordestino e a cultura nordestina é muito presente em minha obra. O formato em cordel e a história ser situada no sertão, já veio no argumento proposto por Marcos Covask, um dos dramaturgos.
Você assina a dramaturgia ao lado de Beto Gaspari e Marcos Covask. Como foi essa construção coletiva do texto? Cada um trouxe um olhar específico?
Foram seis mãos criando. Três olhares diferentes. Tudo bem tranquilo, dividimos bem. Marcos Covask criou o argumento, Beto Gaspari criou as sextilhas de cordel e eu criei os diálogos das cenas. A dramaturgia foi criada durante o processo de ensaio. Assistir os artistas criando os personagens, creio que nos ajudou na escrita.

O espetáculo tem uma estética forte e muito conectada à cultura popular nordestina. Como foi pensar o visual da peça em diálogo com essa linguagem?
Um espetáculo é criado por várias pessoas. Depois do texto pronto, chega o diretor com as ideias, o figurinista, o cenógrafo, o iluminador, e a estética vai sendo criada de acordo com a criatividade e propostas destes profissionais.
Desde 2021, o espetáculo já participou de 20 festivais e recebeu 22 prêmios. Qual você considera o maior diferencial dessa montagem que tem conquistado tantos reconhecimentos?
O nosso Patinho é lindamente contado. Aborda um tema necessário para a infância, aliás, para todos. Uma trilha sonora perfeita, que também conta a história, um elenco super talentoso e que comunica com um público de todas as idades.
A peça é destinada ao público infantojuvenil. Como você enxerga o papel do teatro na formação de crianças e adolescentes como cidadãos mais sensíveis e conscientes?
O contato com o teatro é fundamental para o desenvolvimento da criança, do jovem e também do adulto. É no teatro que a gente se reconhece. Auxilia no processo de autoconhecimento, mesmo para os pequenos. O teatro humaniza.
Você transita entre dramaturgia, atuação e produção. Como é conciliar essas funções dentro de um mesmo projeto? Alguma delas fala mais alto no seu coração? E se puder, conta um pouco mais sobre o seu personagem na peça?
É o famoso “se virar nos 30”. A dramaturgia vem primeiro, a atuação e a produção seguem de maneira paralela, mas sempre se organiza um tempinho pra cada. Dos três, atuar é o que mais amo, criar e interpretar os personagens. São seis personagens, sem troca de figurino, mudando apenas a voz e o gestual. Gosto da Galinha Severina e do Jumento Genivaldo. A galinha pelo humor, pelo deboche, e o jumento, pela seriedade de ser um mestre conselheiro e bem humano.
A Candhí Produções Artísticas vem realizando um trabalho contínuo no teatro para a infância. Quais são os próximos passos ou sonhos para a companhia?
O novo projeto já está em processo de ensaio. É um espetáculo adulto, chamado “De Repente 27”, com estreia em 1º de agosto, deste ano, no Teatro Firjam Sesi Caxias. Sonhos, muitos sempre. Que venham e sejam realizáveis. E viva o teatro.
