No próximo ano, ‘O Clone’ completa 20 anos de sua estreia, e a novela continua conquistando o público como uma das maiores obras da carreira da autora Gloria Perez. Nesta segunda-feira, dia 12, a obra chega ao Globoplay como parte do projeto de resgate de novelas clássicas para o público ver e rever quando e onde quiser. “É uma história muito humana, e com temas muito atuais: clonagem, dilemas éticos, experiências com as quimeras, dependência química, dramas familiares, amores. E existe também o aspecto muito lúdico da cultura muçulmana, a beleza das vestimentas, das maquiagens, das danças, os costumes…”, pontua a autora. “Muito orgulho, com gratidão de poder ter mostrado um mundo novo, uma nova cultura, numa época que nem existia internet”, avalia Giovanna Antonelli.
Este é o pano de fundo para a história de amor vivida pela muçulmana Jade (Giovanna Antonelli) com o brasileiro Lucas (Murilo Benício). Tudo começa na década de 80, quando eles se conhecem no Marrocos. Filha de muçulmanos nascida e criada no Brasil, Jade foi viver com o tio após a morte da mãe, Sálua (Walderez de Barros). Os dois jovens se apaixonam à primeira vista, mas são impedidos de ficar juntos por causa dos costumes muçulmanos, defendidos com rigor pelo tio de Jade, o patriarca Ali (Stênio Garcia).
Lucas tem um irmão gêmeo, Diogo (Murilo Benício), cuja semelhança entre eles se resume à aparência física. Diferentemente do introspectivo Lucas, Diogo é o típico rapaz namorador, alegre e brincalhão, considerado o mais indicado para suceder o pai, Leônidas (Reginaldo Faria), em seus negócios. Para desespero da família, Diogo morre em um acidente de helicóptero. Com essa tragédia, Lucas volta atrás nos planos de fugir com Jade. Sem alternativa, ela retorna para sua família e se casa com Said (Dalton Vigh).
Abalado pela morte do afilhado, o cientista Albieri (Juca de Oliveira) decide clonar o outro gêmeo, Lucas, como forma de trazer Diogo de volta e realizar um sonho: ser o primeiro a realizar a clonagem de um ser humano. Sem que ninguém tome conhecimento da experiência, Albieri usa as células de Lucas na formação do embrião e o insere em Deusa (Adriana Lessa), que pensa estar fazendo uma inseminação artificial comum.
Passados quase 20 anos, Lucas está casado com Maysa (Daniela Escobar) e tem uma filha, Mel (Débora Falabella). Ele abdicou de seus sonhos para cuidar da empresa do pai. Jade também teve uma filha com Said, Khadija (Carla Diaz). Ela e Lucas se reencontram no Rio de Janeiro e o antigo amor renasce. Os dois voltam a fazer planos e enfrentam novos obstáculos. Já o clone Léo vive com a mãe e a avó, Dona Mocinha (Ruth de Souza), e tem Albieri como padrinho. Nem o rapaz nem sua família suspeitam de sua verdadeira origem. Em viagem ao Marrocos em companhia do cientista, Léo vê Jade e imediatamente se apaixona, exatamente como aconteceu com Lucas anos atrás.
O sucesso da novela foi tanto que expressões como Maktub, Inshalá, Haram, “Jogar ao vento” e “Arder no mármore do inferno” caíram na boca do povo ao longo da obra, que foi vendida para mais de 90 países ao redor do mundo.
Entrevista com Gloria Perez
Como surgiu a ideia de abordar os principais temas da novela?
A novela nasceu da impressão que me causou o nascimento da Dolly. Se era possível clonar uma ovelha, em tese, seria possível também clonar um ser humano. E que problemas de identidade teria esse indivíduo? Que lugar no mundo, como a cópia de alguém? Eu quis pensar sobre isso e escrever é um jeito de pensar sobre as coisas que nos interessam. A experiência da clonagem humana suscita muitas questões éticas e filosóficas. Por um lado, é a tentativa do homem de criar uma vida, pondo-se num lugar até então só concebido a Deus. Era o homem ocidental desafiando Deus. Para falar sobre isso, fui buscar o contraponto na cultura muçulmana. E por isso eles entraram na história. Foi um trabalho de muita pesquisa, porque se trata de uma cultura muito diferente e que sempre chegava a nós através de estereótipos. Estive no Cairo e no Marrocos, convivendo com pessoas comuns, participando dos seus cotidianos, estive com sheiks, estudei o Alcorão. Assim, me preparei para contar a história: de modo que os muçulmanos se reconhecessem, com os cuidados para não ferir sentimentos religiosos. E buscando, como em todos os meus trabalhos, falar da diversidade, lembrar que, para além do nosso umbigo, nossa visão de mundo é apenas mais uma, entre tantas outras.Para escrever sobre dependência química, fiz também uma pesquisa de campo. Como em todas as minhas novelas, escolhido o tema, fui conversar com as pessoas que viviam essa condição, frequentando clinicas e ouvindo, diretamente, os relatos dessa vivência. Até então eu sabia dos dependentes químicos pelo que ouvia dos médicos, dos familiares, da polícia. Quis dar voz a eles. E perguntar, como sempre, o que gostariam de dizer para a sociedade. Esse foi o caminho.
Mesmo depois de quase 20 anos, O Clone continua mobilizando o público. A que atribui esse sucesso?
É uma história muito humana, e com temas muito atuais: clonagem, dilemas éticos, experiências como as quimeras, dependência química, dramas familiares, amores. E existe também o aspecto muito lúdico da cultura muçulmana, a beleza das vestimentas, das maquiagens, as danças, os costumes…
Entrevista com Giovanna Antonelli
Quais são as suas principais memórias da época de O Clone?
Além da novela, que marcou a história da TV brasileira, teve o Marrocos. Foi uma experiência incrível que vivi. Inesquecível. Uma cultura riquíssima de história, um povo hospitaleiro. Um lugar mágico.
O que essa novela representou na sua carreira?
Uma grande oportunidade que eu agarrei e me joguei. Sou fã da Gloria Perez. Brinco que com ela faço até árvore do cenário (risos). O Marcos Schechtman, um dos diretores e amigo, foi o primeiro a levar meu nome para a Jade. Ele foi meu anjo da guarda.