Lady Gaga entrou em 2025 com uma proposta simples de traduzir em espetáculo a estética caótica e operática de “Mayhem”, mas o que começou como uma série de apresentações promocionais tomou a forma de um fenômeno cultural que se expandiu por continentes, acumulou números de escala histórica e entregou o tipo de refinamento técnico que faz diferença quando o assunto é impacto artístico e econômico.
O resultado cristaliza “The Mayhem Ball” como a turnê mais relevante de 2025, aquela que elevou o padrão global do show pop ao mesmo tempo em que consolidou Gaga como a artista de visão mais sofisticada de sua geração. Os dados não deixam espaço para outra leitura. São 87 shows, atravessando Ásia, Europa, América do Norte e Oceania, produzidos pela Live Nation, com 746.374 ingressos reportados e uma arrecadação parcial de 168,9 milhões de dólares, número que representa apenas uma fração do potencial total, já que a Billboard projeta um acumulado acima de 300 milhões quando a etapa norte-americana adicional e o bloco asiático de 2026 forem contabilizados. É a maior procura da carreira de Gaga em arenas e a maior bilheteria de uma única etapa continental que ela já registrou, com mais de 103 milhões de dólares apenas nos 27 shows iniciais da América do Norte.
Esse desempenho nasce de um contexto que fortalece a narrativa de superação da própria artista. Depois de enfrentar anos de limitações físicas causadas pela fibromialgia, Gaga reassumiu controle de sua performance durante a “Chromatica Ball”, recuperou confiança diante de estádios esgotados e transformou esse momento em material criativo para dois álbuns consecutivos, “Harlequin” e “Mayhem”, gravados durante 2023 e 2024. Em paralelo, viveu ciclos intensos entre cinema, música e direção, editou o especial “Gaga Chromatica Ball” para a HBO Max, encontrou um novo eixo estético e reposicionou o próprio nome como força maximalista do pop. Não surpreende que o show gratuito em Copacabana tenha reunido 2,5 milhões de pessoas, o maior de sua carreira e o maior já realizado por uma artista feminina na história. A partir dali, a indústria percebeu que Gaga havia reconfigurado seu alcance global.
Quando as datas da turnê foram anunciadas em março de 2025, a reação imediata foi tão intensa que a agenda dobrou em menos de uma semana. Cidades como Nova York, Londres, Paris, Paradise e Inglewood ganharam datas extras. A Austrália recebeu Gaga pela primeira vez desde 2014, com demanda suficiente para abrir novos shows em Melbourne e Sydney. O Japão garantiu apresentações no Tokyo Dome e Osaka Dome, também com sessões adicionais por esgotamento. Em setembro, com lotações recorrentes, a rota expandiu-se novamente para 2026, incluindo Washington, Boston e Saint Paul. Esse comportamento de mercado deixa claro que Gaga opera em um patamar em que oferta e procura coexistem sob uma pressão constante de sold outs, algo reservado a poucas figuras da música global.
Mas é dentro da arena que “The Mayhem Ball” conquista seu lugar exclusivo entre os grandes espetáculos de 2025. Lady Gaga optou por abandonar a estrutura de estádios e reconfigurar a experiência para um ambiente controlado, permitindo que a visão estética ficasse milimetricamente alinhada ao conceito do álbum. Essa decisão sustenta a construção de um espetáculo teatral dividido em atos, dirigido por Gaga e Ben Dalgleish, com coreografias de Parris Goebel e uma cenografia assinada por Jason Ardizzone-West e Es Devlin. O palco central assume a forma de uma ópera em ruínas, inspirada em coliseus e arquitetura barroca, com variações simbólicas ao longo do espetáculo, reforçando o embate entre luz e escuridão que estrutura o universo de “Mayhem”.
A narrativa visual se desenvolve com precisão cirúrgica. A abertura apresenta duas versões da própria Gaga recitando o Manifesto de Mayhem, expandindo a dualidade interna da artista e conduzindo o público a uma jornada estética que inclui momentos como a performance de “Abracadabra” com uma estrutura em forma de gaiola e a versão xadrez de “Poker Face”, encenada como um duelo entre duas Gagas em um tabuleiro vivo. Em “Paparazzi”, surge do chão com muletas e uma longa capa iluminada que toma cores à medida que avança pelo palco, enquanto números como “The Dead Dance”, “Killah”, “Scheiße” e “Garden of Eden” exploram elementos góticos, renascentistas e futuristas em diálogo direto com a estética do álbum. No clímax, a união das duas versões da Gaga culmina em uma travessia simbólica durante “Shallow”, apresentada sobre uma gôndola iluminada que percorre a passarela como se fosse um rio, solução técnica que exigiu uma engenharia de mobilidade própria e virou ponto alto da turnê.
O guarda-roupa merece capítulo à parte dentro dessa análise. Gaga mobilizou estilistas como Natali Germanotta, Dilara Findikoglu, Manuel Albarran, Francesco Risso, Matières Fécales, Chrome Hearts e uma lista extensa de criadores independentes, combinando armaduras, croquis operáticos, estruturas metálicas e silhuetas históricas. A abertura com a imensa estrutura vermelha, criada por Samuel Lewis e Athena Lawton, evoca Mugler. O vestido de rendas e o capacete metálico durante “Paparazzi” dialogam com a fase McQueen. Há referências diretas ao vídeo de “Bad Romance”, às crutches metálicas de 2009, aos figurinos militares da era Dangerous de Michael Jackson e ao fantasma de “The Phantom of the Opera”, que inspira o encerramento. Publicações como Vogue, Vanity Fair, Variety e Cosmopolitan descreveram a estética como gothic glamour em escala raramente vista na música pop, ressaltando a fusão entre alta moda, performatividade e narrativa emocional.
O espetáculo dura cerca de duas horas e meia, com mais de trinta músicas alternadas entre os atos, piano solo e surpresa final, além da presença de vinte e dois bailarinos que movimentam o palco como um organismo vivo. A estrutura inclui um catwalk pendular que muda de material e aparência ao longo da narrativa, às vezes pulsando como se fosse sangue, às vezes transformado em mosaico multicolorido. O show integra tecnologia de projeção, mecânicas teatrais, plataformas móveis, escadas retráteis e efeitos cênicos que reforçam cada transformação da protagonista.
Somando dados, escala, impacto cultural, consistência crítica e capacidade de redefinir parâmetros visuais, narrativos e industriais, “The Mayhem Ball” se impõe como o espetáculo mais importante de 2025. É o show em que o pop encontra a ópera, a performance encontra a moda, o público encontra a mitologia e a indústria encontra um novo ponto de referência. Lady Gaga fez mais do que liderar o ano. Ela o reinventou em cena.
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