Lotzse, cantora e compositora paulistana, é uma artista inquieta que transforma o mundo ao seu redor em som. Dona dos singles “arrã” e “o trajeto é minha obra”, seu primeiro álbum, “excelentes exceções“, marca uma estreia ousada e reveladora. Após anos trabalhando em galerias de arte contemporânea, Lotzse não imaginava que esse universo poderia influenciar seu caminho musical de forma tão profunda. “Trabalhei muitos anos em galeria, guardando dinheiro pra conseguir um dia gravar esse álbum,” ela conta, revelando como esse percurso no mundo da arte ajudou a forjar sua identidade.
Com o incentivo do selo Aurita Records e a direção artística de Cesar Lacerda, Lotzse finalmente encontrou um sopro de coragem para colocar no mundo seu álbum de estreia. Ela descreve o trabalho como uma “obra intuitiva“, moldada por experimentação e liberdade. “Esse é um álbum que eu fiz muito… foi algo 100% genuíno e intuitivo do que eu tava sentindo e acreditando naquele momento,” explica.
Cada música em “excelentes exceções” possui uma identidade própria, refletindo a pluralidade de influências e de estilos que Lotzse absorveu ao longo dos anos. “A minha intenção era que cada música tivesse um… não necessariamente um gênero diferente, mas que, pelo menos, as pessoas que gostassem de coisas diferentes iam gostar de uma música no meu álbum,” comenta a cantora, que mergulhou em sonoridades que vão do rock ao reggae, sempre ligadas por um fio condutor experimental.
Essa busca pela liberdade estética se reflete também na identidade visual do álbum. “Eu gosto de tirar fotos, eu tenho uma câmera analógica. E, também por uma questão de budget, eu não tinha como trazer 300 pessoas pra fazer tudo que eu gostaria. Então, a identidade visual também foi orgânica e natural,” ela explica. Para Lotzse, a escolha por uma estética analógica e autêntica não é apenas uma tendência; é uma extensão do que ela sente ser verdadeiro e genuíno em sua arte.
O processo de produção de “excelentes exceções” foi longo e repleto de encontros transformadores. Em 2020, Lotzse começou a trabalhar nas primeiras composições junto com o produtor Fábio Pinczowski. “Eu já tinha esses textos e as coisas que eu gostaria de falar. Mas ainda precisava dar contorno pra muita coisa,” relembra. Fábio apresentou Lotzse ao diretor artístico Cesar Lacerda e ao co-produtor Frederico Heliodoro, e assim o trio iniciou um processo de construção coletiva. “Eu falava: ‘Olha, só tenho essa letra’, e a gente ia juntos. Tinha coisa que eu ouvia e pensava num baixo. Aí o Fred tocava, o César trazia ideias, e a gente foi fazendo isso muito juntos.”
O tempo, segundo Lotzse, foi o “maior instrumento desse álbum”. Em meio à pandemia e com as restrições de 2020, eles iam se encontrando para ensaiar e gravar em condições limitadas, sem pressa para apressar a produção. A bateria de Serginho Machado, que aceitou o convite para gravar sem briefing, é um exemplo dessa entrega coletiva. “Eu queria que ele sentisse que era parte dele. Todo mundo que estivesse participando tinha que sentir isso. Esse álbum é minha carreira solo, mas queria que cada pessoa deixasse um pouco de si nele.”
Ao longo dos anos, enquanto o álbum ganhava forma, Lotzse passava por mudanças pessoais e profissionais. “Em 2022, o álbum ficou meio parado, eu troquei de trabalho, terminei uma relação, me mudei de casa. Era como se a minha vida estivesse se rearranjando junto com a música,” conta. Ela acredita que as experiências de vida foram fundamentais para amadurecer as composições.
Essa narrativa artística é reforçada por trechos de textos que Lotzse escreveu e que acabaram se transformando em intervenções faladas no álbum. Algumas frases vieram de leituras que marcaram o período de produção, incluindo uma citação de “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche: “E a promessa que a vida nos faz, cabe nos mantê-las à vida.” Para ela, a frase não é uma das mais conhecidas da obra, mas seu peso foi significativo o suficiente para merecer um lugar nas faixas. “Esse livro virou o livro da minha vida, mudou muita coisa pra mim,” confessa.
Com a estreia de “excelentes exceções”, Lotzse traz ao mundo um trabalho feito sem pressa, com coragem e honestidade, e deixa claro que cada nota, cada palavra, e cada imagem reflete a intensidade e a liberdade de sua visão artística.