
“Quem sou eu?”. Essa pergunta primordial da filosofia – que talvez seja uma das mais difíceis de responder – é tema de “Mulher Oceânica”, faixa de abertura e single do álbum homônimo da paulista Lubo. A canção ganhou videoclipe na última terça-feira, às 13h13. Na produção, a artista é acompanhada por bailarinos em um jogo de dança e luzes que nos convida a olharmos para dentro, para a auto-reflexão, tudo sob um ar misterioso. A direção ficou por conta da premiada cineasta Maria Alice Arida, conhecida por seus filmes psicológicos protagonizados por mulheres.
“‘Mulher Oceânica’ é a música número um do disco porque ela é o primeiro portal, um convite ao mergulho…”, reflete a cantora. “O arquétipo dessa mulher tem um aspecto capaz de nos puxar para as profundezas da nossa alma. E no clipe retratamos esse universo interno de Lubo e todas as suas partes e espelhamentos quando fazemos duetos comigo e os dançarinos”.
Marcado por uma coreografia fluida, o vídeo apresenta Lubo ao lado de bailarinos. Juntos, esses corpos dançantes flutuam em um espaço escuro e conectam-se entre si e consigo mesmos, tudo por meio da dança. Sobre a estética da iluminação da obra, ela ainda explica: “A cor vermelha foi escolhida como luz também porque estamos falando do oceano interior, do nosso sangue”.
Aqui, brilha novamente a inspiração no livro “Mulheres que correm com os lobos”, de Clarissa Pinkola Estés, tão presente em toda a narrativa do LP de estreia de Lubo, lançado mais cedo neste mês.
É que “Mulher Oceânica” é fortemente influenciada pela mitologia de criaturas chamadas selkies, do folclore europeu, conhecidas como mulheres-foca. No livro, a forma com que a história desses seres é contada nos propõe “a questão do retorno ao lar como processo psíquico importante para a realização e individuação. Entende-se ‘volta ao lar’ como esse lar da alma, vestir a pele da alma para poder habitar-se”, expõe.
Sempre em contato direto com suas narrativas emocionais e também com as referências artísticas que a emocionam, Lubo entendeu que Maria Alice Arida seria a pessoa perfeita para dirigir o projeto. Curtas-metragens como “Solo” (2016) e “Instinct” (2018), assinados por ela, ganharam reconhecimento internacional em festivais mundo afora.
O desejo de que este fosse um videoclipe focado na dança foi, inclusive, compartilhado por ambas. “Ela curte muito fazer filmes de suspense e mistério e essa era a canção mais misteriosa do álbum. Senti que essa era mais a vibe que ela curtiria filmar. Tudo na música iria nos ajudar a construir uma boa dramaturgia pro nosso clipe”, remonta a cantora.
No fim das contas, o vídeo para “Mulher Oceânica” é uma colcha de retalhos dos afetos de Lubo, todos empenhados em contar com poesia e beleza a história da canção. Por exemplo, o figurino é assinado por Lion Melo, amigo de longa data da artista. Por sua vez, a coreografia é assinada por um outro grande parceiro, o bailarino Gabriel Malo, que também aparece na produção. Além disso, o marido de Lubo, o ator Fernando Marianno também empresta seus movimentos ao audiovisual.
Sonoramente, a música é quase gótica em sua atmosfera. É esse o primeiro sabor que o ouvinte sente do disco inaugural de Lubo, que chegou marcado por canções poéticas e reflexivas. A produção musical é uma parceria com Fabio Pinczowski, também responsável por trabalhos de Filipe Catto, Lucas Santtana e Vanguart.