O cinema brasileiro voltou a ser protagonista no circuito internacional. “O Agente Secreto”, novo longa do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, venceu quatro prêmios na 78ª edição do Festival de Cannes, incluindo o de Melhor Direção para Kleber e Melhor Ator para Wagner Moura. O thriller político ambientado no Recife marca um novo momento na trajetória do diretor e, ao mesmo tempo, inscreve o Brasil em um lugar inédito na história do festival.
“O Agente Secreto” ganha teaser oficial após estreia em Cannes

É a primeira vez que um brasileiro recebe o prêmio de Melhor Direção em Cannes. Já o prêmio de interpretação masculina é apenas o terceiro entregue ao Brasil na história do festival, depois de Fernanda Torres em 1986 (“Eu Sei que Vou Te Amar”) e Sandra Corveloni em 2008 (“Linha de Passe”).
Além das duas principais estatuetas, o filme também recebeu o prêmio da crítica internacional (FIPRESCI), que reúne jornalistas de mais de 50 países, e o troféu “Art et Essai”, oferecido pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema de Arte e Ensaio), voltado a obras de relevância artística distribuídas por exibidores independentes na França.
A cerimônia de premiação contou com a presença de Kleber, que subiu ao palco para receber os prêmios. O diretor dedicou o troféu ao Brasil e à parceira e produtora Emilie Lesclaux. Já Wagner Moura, que não pôde comparecer por estar em filmagens em Londres, foi representado por Kleber, que destacou o talento e o compromisso político do ator em seu discurso.
Com cinco participações em Cannes, Kleber Mendonça Filho confirma sua posição como um dos nomes mais respeitados do cinema. Depois de “Bacurau” (Prêmio do Júri em 2019), “Aquarius” e “O Som ao Redor”, “O Agente Secreto” representa uma evolução estética e temática em sua obra, consolidando sua identidade como cronista das tensões sociais brasileiras.
“O Agente Secreto” se passa no Recife de 1977. Wagner Moura interpreta Marcelo, um especialista em tecnologia que retorna à cidade tentando escapar de um passado obscuro. Logo, percebe que a capital pernambucana vive sob intensa vigilância e pressão política. A trama, embora ambientada no passado, ressoa com questões ligadas à vigilância, repressão e memória coletiva.
O elenco inclui nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Carlos Francisco e Alice Carvalho, além de participações do coletivo artístico local, ampliando a conexão com a cena cultural nordestina.
A produção é assinada por Emilie Lesclaux e reúne empresas do Brasil, França, Holanda e Alemanha. A distribuição nacional será feita pela Vitrine Filmes, enquanto, no mercado internacional, os direitos foram adquiridos por players de peso como Neon (EUA e Canadá) e MUBI (Reino Unido, Irlanda, Índia e América Latina).
Mesmo com a coprodução multinacional, “O Agente Secreto” mantém um discurso profundamente local, não apenas geograficamente, mas também esteticamente: do uso da cidade como personagem à escolha do elenco e da trilha sonora. A montagem é assinada por Eduardo Serrano e a trilha por Mateus Alves, ambos nomes recorrentes na filmografia de Kleber.
As conquistas de “O Agente Secreto” em Cannes representam mais do que um marco pessoal para seus realizadores. Indicam um momento de visibilidade e valorização do cinema autoral brasileiro em um cenário global, especialmente em um contexto de retração de investimentos no setor audiovisual e de disputas simbólicas sobre a cultura nacional.
Ao reafirmar o poder da linguagem cinematográfica como ferramenta de crítica e memória, o filme amplia o alcance do cinema brasileiro e projeta sua diversidade estética e política para além das fronteiras.
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