No ar na produção portuguesa “Cacau”, novela de maior audiência da TVI, emissora líder no país, o ator brasileiro Paulo Guidelly também vai estar no cinema e no streaming do seu país natal.
As telas brasileiras vão receber o intérprete do personagem Tiradentes (papel de Guidelly em “Cacau”) no longa “Bandida: A Número Um – O Filme”, e na série “O Jogo que Mudou a História”, do Globoplay. As duas produções estreiam dia 13 de junho: “Bandida” nos cinemas do Brasil, e a série no Globoplay. A coincidência é mais que bem-vinda para Paulo.
— O processo de pós-produção é demorado no audiovisual, e a finalização é incerta devido a vários fatores. Dessa vez, curiosamente, ambos os projetos estreiam no mesmo dia. Isso me traz uma grande felicidade em ver as obras finalizadas. Me sinto privilegiado e orgulhoso da minha trajetória — conta Paulo sobre emplacar trabalhos seguidos.
O filme “Bandida” adapta o livro “A Número Um”, de Raquel Santos de Oliveira, inspirado pela vida da própria autora. Raquel manteve um relacionamento com um criminoso poderoso da Rocinha, no Rio de Janeiro, e se tornou ela mesma uma importante chefe do tráfico. No filme, a atriz e cantora Maria Bomani dá vida a Raquel, e Paulo interpreta Saurio.
— Saurio é um personagem complexo porque é um dos traficantes traidores da história. Já sabemos que, onde tem traição, tem conflito para enredo… — adianta o ator sobre seu papel, que promete agitar a trama.
Já em “O Jogo que Mudou a História”, a história do crime organizado do Rio de Janeiro ganha outra perspectiva. A série acompanha a formação inicial de facções criminosas que marcam a capital carioca. Na produção, Guidelly interpreta o personagem Rabiola.
— Rabiola é um dos detentos no presídio de Ilha Grande e não faz parte de nenhum dos três principais grupos do lugar. É melhor amigo de Zé Roberto, interpretado pelo ator Renato de Souza, que exerce uma liderança entre os presidiários excluídos. Essa parceria é muito importante para Rabiola sobreviver a guerra entre os dois principais grupos da prisão — explica Guidelly.
Do outro lado do mundo, o personagem de Paulo em “Cacau” também propõe debates importantes sobre questões sociais e raciais. Militante, Tiradentes acredita que o povo brasileiro, colonizado por Portugal, merece uma reparação histórica por parte dos portugueses.
— Recebo muitas mensagens positivas sobre o discurso do Tiradentes, e da importância da minha representatividade na teledramaturgia portuguesa. Os brasileiros estão vibrando junto comigo! — se orgulha.
Para Guidelly, as reflexões não acontecem só para seus personagens, e ele observa experiências parecidas em sua própria trajetória profissional como um ator negro, em comparação a seus personagens.
— Percebo paralelos entre a minha pessoa “física”, por assim dizer, Saurio e Rabiola. Sou um ator negro, e os personagens oferecidos para mim são, na maioria, criminosos, pobres, empregados ou escravizados. Embora hoje eu perceba um processo de crescimento na criação de outras dramaturgias possíveis, que citam o negro numa outra perspectiva, ainda é um grande paradoxo para os atores que querem continuar no mercado — observa Paulo.
Guidelly leva para as telas a história de homens negros com vidas diferentes, mas similares em pontos que convidam à reflexão.
— Rabiola está preso e Saurio está solto, e ambos têm caráter contrastante, mas o que me alegra é ter tido a oportunidade de viver personagens tão parecidos nas suas condições sociais — reconhece.