A noite de domingo trouxe o Smashing Pumpkins ao palco do Espaço Unimed, transformando a casa em um templo vibrante de nostalgia e vigor rockeiro. Enquanto a chuva caía lá fora, o público se aquecia com uma performance marcada pelo peso visceral das guitarras e pela atmosfera imersiva criada pela iluminação sombria. A estética “terror chic” predominou, com Billy Corgan assumindo seu já icônico visual de longa capa preta, marcada por botões vermelhos, lembrando um personagem de filme de terror, um “nosferatu tecno-gótico” que mescla o apelo sombrio com uma elegância estranhamente refinada.
Desde os primeiros momentos de “The Everlasting Gaze”, a banda colocou todo o peso de sua técnica em cena. Jimmy Chamberlin dominou a bateria com uma precisão quase hipnótica, seus golpes medidos formando o alicerce pulsante de cada faixa, enquanto a guitarra de James Iha ora conduzia riffs explosivos, ora criava paisagens sonoras mais melódicas. Kiki Wong, nova integrante e única não pertencente à formação original, foi um dos pontos altos da apresentação. Ela não só imprimiu estilo e energia ao palco, como entregou solos técnicos e cheios de personalidade, surpreendendo e conquistando o público brasileiro em sua estreia.
O setlist parecia desenhado para um verdadeiro passeio pela história da banda. Músicas como “Tonight, Tonight” e “Disarm” evocaram uma melancolia agridoce, imortalizadas na memória dos fãs que cantavam cada verso. Entre esses clássicos, as novas composições, como “Sighommi” e “That Which Animates the Spirit”, trouxeram peso e complexidade, sendo um reflexo das ambições musicais que Corgan ainda mantém vivas. Os arranjos foram densos e imersivos, combinando camadas de guitarras e sintetizadores com o vocal angustiado de Corgan, transportando os fãs a uma espécie de “transe gótico“.
O momento de destaque técnico ficou para a interpretação de “Doomsday Clock” com um arranjo denso, onde o baixo de Jack Bates reverberava em cada canto do espaço, enquanto Wong e Iha alternavam camadas de riffs que pareciam preencher o ar de tensão. A acústica do Espaço Unimed colaborou para que cada detalhe das faixas mais complexas, como “Zero” e “Cherub Rock”, fosse absorvido pela plateia, mostrando que o rock alternativo dos anos 90 ainda tem fôlego e espaço.
A atmosfera “terror chic” ganhou sua apoteose com o bis inesperado, quando a banda retornou para um cover de “Ziggy Stardust” de David Bowie. Numa performance que mesclou improviso com reverência ao clássico, a banda fechou o show em um momento apoteótico, ecoando a energia e a rebeldia que sempre definiram o Smashing Pumpkins.
Aqueles que vieram pelo passado da banda saíram imersos no presente enérgico do grupo, que mostrou que, mesmo com novas formações e novas direções, mantém o espírito e a intensidade que conquistaram gerações.