A discografia do Detonautas sempre flertou com o rock brasileiro em suas muitas camadas, mas em “DVersões”, novo EP da banda, a proposta é romper as amarras de gênero e usar a própria história como combustível. Com mais de duas décadas de estrada, o grupo revisita canções que fizeram parte de sua trajetória nos palcos, reimaginando clássicos populares com identidade própria e colaborações improváveis. O resultado é um álbum que conecta passado e presente com a leveza de quem entende que a música, para continuar viva, precisa circular em novas formas.
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O projeto, já disponível nas plataformas, nasceu do desejo antigo de reunir em um só registro canções que sempre habitaram o setlist do Detonautas. “A ideia do disco ‘DVersões’ é bem mais simples do que parece”, explica Tico Santta Cruz. “São músicas que a gente tocou durante diferentes momentos da nossa história. Canções que o público reconhece mesmo não sendo do nosso gênero, mas que ressoam quando a gente as interpreta do nosso jeito.”
Foi assim com “Um Sonhador”, clássico sertanejo de Leandro e Leonardo, que a banda começou a tocar de forma despretensiosa em viagens pelo interior de Goiás. A sugestão veio do guitarrista Fio, e logo virou parte dos shows. Mesmo diante de plateias roqueiras mais conservadoras, a resposta era imediata: o público cantava junto. Isso chamou a atenção de Tico. “A música atravessava preconceitos e mostrava que, quando é boa de verdade, rompe qualquer barreira.”
Para dar ainda mais cor à releitura, a banda convidou Gustavo Mioto, um dos nomes mais fortes da nova geração sertaneja. “Musicalmente, ele é muito diferente do Detonautas, mas esteticamente a gente via semelhanças na presença de palco, no jeito de se vestir, no espetáculo como um todo. Ele foi o parceiro perfeito pra isso.” O clipe da faixa foi gravado em estúdios da Warner e da Deckdisc, com parte das cenas filmadas na casa de Mioto, criando uma atmosfera intimista que contrapõe com delicadeza a força do original.
Outro destaque do EP é a parceria com o Grupo Maracatu Nação Erê, que aparece em três faixas: “Samba Makossa”, “Intro (Orixás)” e “A Praieira”. A conexão veio do Festival de Jazz e Blues de Recife, onde o Detonautas decidiu homenagear Chico Science. “A presença do grupo engrandeceu tudo. São crianças de comunidade quilombola fazendo música, tocando, cantando. Trazer isso pra dentro do nosso repertório foi muito poderoso.” As versões ganham novas texturas, mesclando maracatu com a pegada rock e até com trechos do acústico do Charlie Brown Jr., numa costura sonora ousada e cheia de camadas.
Ao contrário do que se possa imaginar, o EP não nasceu com uma bandeira política. Mas inevitavelmente carrega um discurso de união através da diversidade musical. Tico deixa claro: “A gente não pensou no Brasil polarizado nem em nenhuma questão ideológica. O que existe aqui é o respeito por estilos, culturas, movimentos. O Brasil é plural e o Detonautas também. A gente não quer erguer muros, a gente quer construir pontes.”
Com seis faixas, “DVersões” funciona como um mapa afetivo e criativo da banda, mas também como um respiro entre projetos maiores. Serve como catalisador entre o acústico de 2023 e um possível álbum de inéditas que ainda está em estágio embrionário. Tico define o projeto como um mecanismo de movimento constante. “Sempre que a gente se sentir confortável demais, vem um disco como esse para nos tirar do lugar comum. E talvez novas versões venham por aí. Isso virou uma nova dinâmica pra gente.”
Em um momento em que tantos artistas tentam decifrar algoritmos, o Detonautas continua apostando na força da experimentação e no respeito às suas raízes. “DVersões” é menos sobre reinventar e mais sobre reconhecer, revisitar, redesenhar. E nesse processo, seguir provocando.
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