Poucos artistas demonstraram tanta competência em transformar suas fases pessoais em propostas musicais consistentes quanto Miley Cyrus. E o que poderia ser apenas uma sequência de experimentações passageiras se consolidou, ao longo de quase duas décadas, como uma das trajetórias mais coerentes em termos de reinvenção artística no mainstream. Prestes a lançar “Something Beautiful”, seu nono álbum de estúdio, a cantora aponta para um novo momento criativo, desta vez ancorado em referências clássicas como Pink Floyd, mas sem abrir mão da autenticidade que definiu sua identidade musical ao longo dos anos.
Explorando a jornada visual de Yungblud

A base dessa construção começa ainda na infância. Nascida em Nashville e filha do cantor Billy Ray Cyrus, Miley foi inserida desde cedo no ambiente musical. Seu protagonismo na série “Hannah Montana” deu origem a uma das franquias mais lucrativas da história da Disney, oferecendo à artista uma plataforma de alcance global. Ao mesmo tempo, estabeleceu um desafio que muitos outros nomes enfrentaram: como transitar de uma persona infantil para uma carreira musical legítima na vida adulta sem comprometer a credibilidade? Miley enfrentou essa transição com clareza estratégica.
Seus primeiros álbuns solo, “Meet Miley Cyrus” (2007) e “Breakout” (2008), apresentaram um direcionamento pop-rock comercial, adequado ao seu público-base da época. O sucesso foi imediato: ambos alcançaram o topo da Billboard 200, garantindo seu posicionamento inicial fora da moldura de Hannah Montana. Com o EP “The Time of Our Lives” (2009), a cantora introduziu “Party in the U.S.A.”, que se tornaria um de seus maiores sucessos em vendas e execução, alcançando múltiplas certificações de platina.
Mas foi em 2010, com o lançamento de “Can’t Be Tamed”, que Miley iniciou uma mudança estética e temática mais evidente. Apostando em uma sonoridade mais voltada ao dance-pop, o álbum foi recebido com certa hesitação pela crítica, mas serviu como transição entre a imagem juvenil e uma postura mais independente. Esse deslocamento se intensificaria em 2013, quando, já sob contrato com a RCA Records, ela lançou “Bangerz”. Influenciado por hip-hop e R&B, o disco marcou um ponto de inflexão. Com singles como “We Can’t Stop” e “Wrecking Ball”, Miley se reposicionou como uma artista com presença definitiva nas paradas, mas também com controle criativo sobre a própria narrativa. O impacto visual e performático da era Bangerz funcionou como ruptura com o passado e afirmação pública de sua autonomia estética.

A sequência desse reposicionamento veio com uma série de movimentos ousados. “Miley Cyrus & Her Dead Petz” (2015) apresentou um mergulho em sonoridades experimentais, psicodélicas e introspectivas, com distribuição gratuita e estética lo-fi. Em seguida, “Younger Now” (2017) propôs um retorno às raízes country-pop, evocando sua infância em Nashville sem perder a sofisticação da produção contemporânea. Já em “Plastic Hearts” (2020), Miley adotou uma abordagem roqueira, com influências diretas de nomes como Joan Jett e Billy Idol, ao mesmo tempo em que se mantinha atenta às dinâmicas do pop atual. O resultado foi um álbum tecnicamente bem executado, elogiado pela crítica e relevante em termos comerciais, que reafirmou sua versatilidade vocal e sua capacidade de se apropriar de diferentes gêneros com domínio técnico.
Ao assinar com a Columbia Records e lançar “Endless Summer Vacation” (2023), Miley ampliou seu alcance global, especialmente com o sucesso estrondoso de “Flowers”, que conquistou o topo das paradas em diversos países e venceu o Grammy na categoria Gravação do Ano. Nesse ponto da carreira, sua consolidação como figura central da música pop já era inquestionável, com uma discografia marcada por altos índices de vendas, prêmios importantes e forte influência cultural.
É dentro desse contexto que “Something Beautiful” ganha forma, previsto para 30 de maio de 2025. Trata-se de um projeto conceitual, um álbum visual com foco temático na ideia de cura. A abordagem estética e sonora parte de uma premissa ambiciosa: construir uma narrativa emocional profunda em treze faixas, acompanhada por um longa-metragem musical. A inspiração em “The Wall” (1979), do Pink Floyd, indica uma intenção de estrutura conceitual fechada, na qual cada faixa contribui para o desenvolvimento de um arco narrativo interno.
O álbum foi precedido por três lançamentos: “Prelude”, uma faixa introdutória falada com ambientação eletrônica e reflexões existenciais; “Something Beautiful”, a música-título, que inicia como uma balada alternativa com traços de soul e jazz e se expande para um rock psicodélico; e “End of the World”, primeiro single oficial, que amplia a proposta lírica e estética do projeto. A produção, assinada por Miley ao lado de Shawn Everett, valoriza texturas orgânicas combinadas com arranjos eletrônicos e experimentais, reforçando o caráter híbrido do disco.
A parte visual, dirigida por nomes como Jacob Bixenman e Brendan Walter, complementa a proposta artística. A imagem de divulgação principal, com Miley vestindo alta-costura Thierry Mugler de 1997, fotografada por Glen Luchford, não é apenas um recurso promocional: é um indicativo de que o projeto busca integrar música, moda, cinema e performance em uma proposta de linguagem múltipla.
Olhando em retrospecto, a coerência da trajetória de Miley Cyrus está justamente em sua disposição para mudar de maneira estrutural. Cada novo projeto foi arquitetado para refletir transições pessoais e criativas. Essa evolução contínua exige domínio técnico, visão estratégica e coragem para abandonar fórmulas que deram certo no passado em nome da inovação. “Something Beautiful” surge, portanto, como uma consequência natural de quem entende sua discografia como um organismo vivo. Um projeto que, mais do que mirar o sucesso imediato, investe na construção de um legado.
Miley não se contenta em repetir o que funciona. Ao contrário: desafia expectativas, expande sua paleta sonora e constrói obras que dialogam com o tempo, com o público e com as próprias inquietações criativas. O que se anuncia agora não é apenas um novo disco, mas um novo marco dentro de uma trajetória que, tecnicamente, já se destaca como uma das mais consistentes e interessantes da música.
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