A cada dia, a sociedade moderna nos empurra em direção a padrões impossíveis de beleza e perfeição. Em “A Substância”, com estreia marcada para 19 de setembro de 2024 nos cinemas brasileiros, a diretora Coralie Fargeat pega esse fardo e o transforma em um thriller psicológico onde a vaidade assume forma concreta e sinistra. Estrelado por Demi Moore, o filme é uma viagem perturbadora pela desconstrução da imagem e pela busca inatingível pela juventude eterna.
Logo no início, nos deparamos com uma celebridade em declínio, forçada a confrontar o desgaste de sua aparência e a cruel realidade de sua relevância em uma indústria que valoriza o efêmero. Ao ser demitida de seu programa fitness, ela se agarra a uma solução extrema: uma droga do mercado negro que promete replicar suas células, criando uma versão mais jovem e “aperfeiçoada” dela mesma. Porém, como um espelho distorcido de sua própria identidade, essa nova versão traz à tona questões muito mais profundas do que apenas a estética.
A proposta de “A Substância” não poderia ser mais atraente, afinal, quem nunca sonhou em se ver melhorado? Ser “você”, só que mais jovem, mais bonito, mais capaz. Mas a trama se desenrola de forma a nos mostrar que essa busca incansável pela perfeição é mais sombria e devastadora do que qualquer um poderia prever. O preço da “perfeição” é alto, e o filme mergulha fundo nas consequências de dividir sua própria existência com uma versão idealizada de si mesmo.
Coralie Fargeat nos presenteia com uma obra de body horror que revisita o gênero com uma sofisticação visual rara. Em vez de meramente chocar, ela conduz uma reflexão poderosa sobre a pressão estética e a incessante busca pela aprovação social, amplificada pelas redes sociais e pelo consumo desenfreado de corpos e vidas fabricadas. A presença de Demi Moore no papel principal vai além de sua história como ícone de beleza. Sua disposição em se confrontar com a passagem do tempo, e com os estereótipos que a perseguem torna sua performance ainda mais impactante. Moore não apenas interpreta o papel; ela vive a história de cada mulher que já foi engolida pelo sistema, seu corpo marcado pela passagem do tempo e as intervenções da estética moderna.
O filme, no entanto, não se limita à superfície. Ele mergulha no profundo, abordando a degradação do corpo como um reflexo da sociedade atual, obcecada pela aparência jovem e perfeita. A juventude é retratada como uma mercadoria, algo que se consome e se descarta assim que expira sua validade. “A Substância” faz um paralelo brilhante entre o consumo dessa droga milagrosa e o consumo desenfreado de imagens e conteúdos nas redes sociais, onde a realidade é distorcida e vendida em versões “perfeitas” e irreais.
Na essência, “A Substância” é um conto sombrio e fascinante sobre o desespero humano em manter a aparência de perfeição em um mundo que valoriza o efêmero e o superficial. A diretora não se contenta em apenas contar a história de uma mulher, mas sim em dar corpo e forma à crítica contra a ditadura da beleza e da juventude eterna, que nos assombra em cada selfie retocada e filtro perfeito. O resultado é um filme visceral, incômodo e, acima de tudo, necessário.
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A Substância: ✩✩✩✩✩
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