Existe uma diferença técnica importante entre simbolismo e disfarce. O primeiro organiza sentidos. O segundo, os esconde por pura insegurança. “A Fera Interior” tenta construir uma metáfora, mas o que entrega é um labirinto frouxo de intenções mal resolvidas, incapaz de sustentar a própria estrutura narrativa.
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O filme é conduzido pela perspectiva de uma criança, o que, a princípio, poderia ser um recurso potente. Mas a direção opta por uma mise-en-scène que flerta com o contemplativo sem entender o que deve ser contemplado. O resultado é um jogo de observação que promete tensão e entrega tédio. O ritmo é letárgico, a progressão é difusa e a curva dramática nunca alcança um ponto de maturidade real.
O uso da figura do lobisomem como metáfora para abuso doméstico até poderia soar provocativo, se houvesse qualquer controle tonal. Mas aqui, o simbolismo é aplicado de forma literal, quase didática, como se a imagem da fera fosse um recurso de última hora para explicar o que o roteiro falhou em construir com verdade. Não é uma alegoria. É uma desculpa. E das mais frágeis.
Há um esvaziamento dramático evidente. A revelação que deveria ser o pivô do longa funciona como um anticlímax. O filme se apoia em um segredo que jamais chega a ter impacto real. E o impacto emocional, que depende diretamente do silêncio e da observação, simplesmente nunca vem. Os diálogos não funcionam como subtexto. A encenação não revela tensões internas. A câmera permanece distante, como se observasse tudo sem qualquer urgência.
O design sonoro até insinua uma atmosfera mais densa, e a fotografia tenta se valer da floresta como espelho da repressão e do não-dito. Mas essas escolhas estéticas operam quase em vão. Há um ruído de gêneros colidindo. Suspense, drama, fantasia, terror: o filme se aproxima de todos, mas não pertence de fato a nenhum. Essa indecisão tonal enfraquece qualquer esforço de profundidade.
Mesmo a atuação de Kit Harington, que poderia ser uma âncora emocional para o espectador, se perde em meio à superficialidade dos conflitos. Falta densidade ao personagem. Falta conflito interno. Falta tudo aquilo que poderia fazer a violência ser de fato sentida.
“A Fera Interior” fracassa ao tentar transformar metáfora em estrutura narrativa. É um filme que se esconde atrás de símbolos que não sustentam a própria fábula. E, no fim, tudo o que resta é uma sucessão de silêncios mal preenchidos, promessas não cumpridas e um clímax sem peso.
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