Se os vampiros tivessem resolvido tirar férias em uma cidadezinha isolada dos Estados Unidos, “A Hora do Vampiro” seria o filme para contar essa história. Adaptado do clássico de Stephen King, o longa de 2024 tenta levar para as telas a atmosfera sufocante e cheia de suspense que os fãs do autor já conhecem bem. Mas será que ele consegue morder o pescoço do público ou fica só na mordiscada?
A trama acompanha o escritor Ben Mears (vivido por Lewis Pullman), que retorna à sua cidade natal, Salem’s Lot, em Maine, com a missão de enfrentar o trauma do passado e escrever um novo romance. Aparentemente inofensivo, certo? Bom, se tem uma coisa que a gente aprendeu com King, é que o mal sempre se esconde onde menos se espera. No caso, o mal vem na forma da misteriosa Casa Marsten, que Ben desconfia estar infestada por algo mais sombrio que cupins. O filme rapidamente nos apresenta a Richard Straker (Pilou Asbæk) e seu sócio, cujos hábitos nada saudáveis começam a transformar a pacata Salem’s Lot em um banquete para criaturas sugadoras de sangue. A partir daí, corpos começam a aparecer, e com eles, uma dúvida: quem vai acreditar em Ben?
Agora, aqui é onde as coisas ficam interessantes, e também problemáticas. A produção se propõe a adaptar um dos romances mais tensos de King, com todo o seu tom lúgubre e clima de pavor crescente, mas acaba deixando algumas mordidas pela metade. É inegável que o filme abraça o lado clássico do terror vampiresco, quase como uma releitura de “Drácula“, mas o ritmo arrastado e a ausência de sustos memoráveis pode frustrar quem esperava um terror mais visceral e menos contemplativo.
O roteiro segue a fórmula: temos a busca pelo vampiro, o planejamento para derrotá-lo e as mortes inevitáveis no caminho. Até aí, tudo muito familiar, como um prato conhecido sendo servido. A diferença é que, em vez do famoso Van Helsing, quem lidera a investida contra o mal é um escritor atormentado e uma dupla improvável de aliados. E, claro, a ambientação da pequena cidade norte-americana dá aquele toque de King, que sempre sabe como transformar o ordinário em extraordinário.
O problema, no entanto, está nos detalhes. Enquanto o livro tem tempo de sobra para construir a tensão e nos fazer mergulhar nas mentes dos personagens, o filme corre para entregar os principais eventos sem dar muita profundidade emocional. O elenco faz o possível, mas fica aquela sensação de que falta algo, uma faísca de angústia ou desespero que poderia ter levado a história para outro nível. Quando finalmente chegamos ao clímax, onde deveríamos sentir o peso das perdas e das escolhas dos personagens, tudo parece meio… morno. O que deveria ser um drama intenso, no estilo “luta pela sobrevivência”, acaba não gerando o impacto necessário.
Outro ponto que pode dividir opiniões é o ritmo. O filme, que chegou ao catálogo da Max em 3 de outubro de 2024, opta por um desenrolar mais lento, quase contemplativo, o que pode facilmente deixar o espectador mais inquieto que um vampiro faminto em um festival de alho. O formato passivo do cinema, diferente da experiência ativa de um livro, não ajuda. Ao invés de ser uma espiral crescente de medo, a narrativa às vezes parece estagnada, dando tempo demais para o público tirar os olhos da tela e pensar no que vai jantar depois.
Dito isso, os fãs mais puristas de King talvez até apreciem a fidelidade ao material original. Não é todo dia que se vê uma produção que tenta respeitar tanto a essência de uma obra, especialmente quando se trata de um autor famoso por suas complexas construções psicológicas. Mas, em uma época em que o terror costuma vir embalado com sustos constantes e ritmo frenético, é compreensível que alguns espectadores saiam com a sensação de que o filme poderia ter “cortado mais o tempo” — e talvez os mortos-vivos também.
No final das contas, “A Hora do Vampiro” é uma experiência que, como o próprio Ben Mears, tenta resolver questões do passado sem garantir que tudo vai ser do jeito esperado. Para quem é fã de vampiros, Stephen King e atmosferas sombrias, o filme oferece um banquete de referências e nostalgia. Para quem esperava algo mais rápido e com sustos que deixam o coração disparado, pode ser que saia com um gosto de sangue na boca… mas não no bom sentido.