“A Vilã das Nove” chega em grande estilo, trazendo para o cinema brasileiro o mesmo tipo de charme e intriga que dominam as novelas de fim de tarde. Sob a direção de Teodoro Poppovic e com roteiro afiado de Maíra Bühler, André Pereira e Gabriela Capello, o filme flerta com o drama e a comédia de forma natural, sem pressa de entreter. Aqui, não estamos falando de uma história qualquer: é a vida de Roberta, interpretada com intensidade por Karine Teles, que ganha contornos de tragicomédia quando ela percebe que seu maior segredo virou enredo de novela. Só que, para piorar, a retratam como a vilã da trama.
O filme faz parte da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais informações, basta clicar aqui.

A força de “A Vilã das Nove” está na maneira como ele brinca com o exagero sem nunca ultrapassar o limite, quase como se dissesse: “Eu sei que você já viu essa história, mas agora vai ver de um jeito novo”. Karine Teles vive Roberta com uma ferocidade leve, como alguém que precisa sorrir para sobreviver, mas também sabe rir da própria dor. É um retrato delicado e cheio de nuances, equilibrando o humor com uma crueza emocional. Ao lado de Alice Wegmann e Camila Márdila, que dominam a tela com performances afiadas, Teles faz com que a trama ganhe vida com diálogos afiados e uma química que parece ter sido ensaiada por uma vida inteira.
O filme é uma homenagem disfarçada à cultura de novelas no Brasil, mas sem perder o toque de crítica. Poppovic injeta um humor que, diferentemente da típica comédia, não é forçado: ele deixa o riso vir de forma natural, sem o peso daquela expectativa de riso coletivo, o que faz com que cada cena seja genuína. A fotografia e a montagem completam a experiência visual com um toque íntimo, dando ao espectador a sensação de estar entrando na vida de Roberta sem pedir licença.
Mas há algo a se pontuar: ao deixar certas perguntas sem resposta, o filme arrisca ficar no campo do enigma. Como Roberta passou a vida toda escondendo sua filha? Como foi a vida dessa menina e onde está o pai? São lacunas que poderiam ter sido exploradas de forma mais direta, e que, mesmo sem enfraquecer a narrativa, deixam uma sensação de que algo poderia ter sido mais bem amarrado. Mas talvez essa seja a intenção.
O filme é um presente para o público brasileiro, que se vê refletido tanto nos dramas quanto nas alegrias de uma personagem comum, mas que nunca deixa de ser fascinante. É um filme que se permite brincar, rir e chorar com o público, num convite para revisitar o que temos de mais familiar e, por isso, eternamente complexo: a vida cotidiana, sempre em primeiro plano na tela da nossa própria novela.
O filme chega aos cinemas do Brasil em 31 de outubro, para mais informações sobre ingressos basta clicar aqui.
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