Nem toda comédia precisa reinventar a roda. Mas “Amor Demi-Sec 2” parece determinado a rodar em círculos com uma roda torta. A sequência dirigida por Joshua Rous retorna ao universo criado em “Semi-Soet”, mas o que era para ser uma continuação simpática vira um desfile constrangedor de piadas infantis, atuações esfareladas e um roteiro que parece escrito em um guardanapo durante um voo turbulento.
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A proposta é clara: dois adultos fingem ser pais para agradar uma marca de produtos infantis e conquistar um contrato milionário. Só que o que poderia render uma crítica social disfarçada de humor, ou ao menos uma sátira sobre aparências e ambição, se transforma em uma sucessão de situações engessadas, previsíveis e, pior, pouco engraçadas. Quando o ponto alto do seu filme é uma fralda suja no rosto de um personagem, já dá para entender que o roteiro não confia no próprio timing cômico.
A estética do longa é bem cuidada. A fotografia entrega paisagens solarizadas que emolduram a narrativa com certo charme visual. Só que isso não salva a experiência. É o típico caso em que o cenário trabalha mais que o elenco. E, por falar em elenco, a entrega é mais próxima do que se espera de uma esquete apressada de TV do que de uma comédia romântica com espaço para desenvolvimento emocional. A atuação escorrega entre o exagero e o artificial, e o casal central não convence nem como parceiros de mentira.
O humor, que deveria ser o motor do filme, parece funcionar num volume abaixo do mínimo aceitável. A comédia aqui se apoia em estereótipos datados e constrangimentos físicos como se ainda estivéssemos em 2003, ignorando que o gênero evoluiu e que o público atual pede mais do que bebês vomitando e personagens gritando por tropeçar em brinquedos espalhados.
Mesmo nas tentativas mais sinceras de gerar conexão emocional, o filme tropeça. Existe uma cena específica, uma conversa entre Jaci e Marietjie, que chega a tocar em um tema delicado com alguma dignidade, quase como se tivesse saído de outro roteiro. Ali, por um breve instante, parece que o filme acorda. Mas dura pouco. Logo voltamos ao caos de piadas fáceis e situações esvaziadas de qualquer humanidade.
O problema central de “Amor Demi-Sec 2” é que ele acredita que exagerar é o mesmo que ser engraçado, que barulho é sinônimo de comicidade, e que empurrar um enredo raso com situações estapafúrdias basta para manter o público engajado por 90 minutos. Funciona? Funciona para quem está lavando louça e não quer pensar muito. E, honestamente, talvez seja esse o maior mérito do longa: cumprir o papel de pano de fundo inofensivo para as tarefas do dia.
A comédia romântica já sobreviveu a muita coisa. Já foi cafona, já foi refinada, já foi revisionista. E mesmo nas suas versões mais fracas, há uma certa nobreza em tentar contar histórias leves em um mundo cada vez mais pesado. Mas o que falta a “Amor Demi-Sec 2” não é só profundidade. Falta intenção, frescor, personalidade. Falta uma voz que justifique o porquê dessa história ter voltado.
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