“Casa de Davi” tenta ser mais do que um épico bíblico tradicional. A série quer transformar uma narrativa milenar em um drama robusto, com carne, osso e alma. Ela revisita a figura icônica do rei Davi a partir de sua juventude, plantando o foco justamente onde a maioria dos relatos costuma acelerar: nos bastidores da pedra que derrubou um gigante. E é aí que mora a ambição mais interessante da produção.
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A proposta caminha pela mesma estrada que outras dramatizações religiosas tentaram trilhar, mas com um toque moderno de realismo emocional. Nada aqui é exatamente novo. A estética lembra o que se espera de uma superprodução do gênero: desertos vastos, figurinos alinhados com o Antigo Testamento e uma fotografia dramática que beira o solene. Porém, o que “Casa de Davi” parece buscar é um tipo de humanidade esquecida dentro da lenda. Davi é pastor, filho, irmão e menino antes de ser guerreiro ou rei. Saul é homem antes de ser um monarca amaldiçoado pela própria soberba.
É claro que a série carrega consigo o peso da reverência. O cuidado com a fidelidade bíblica e com a representação da fé é nítido. Isso, por um lado, preserva o respeito ao material original. Por outro, engessa parte da fluidez dramática que a televisão exige para cativar públicos além dos já convencidos. A dramaturgia se perde, às vezes, em diálogos mais preocupados em parecerem sagrados do que em soarem verdadeiros. Os personagens falam como se estivessem sempre em púlpitos, o que diminui a chance de uma conexão emocional mais profunda.
Ainda assim, há potência em “Casa de Davi”. O embate entre o menino escolhido e o rei em declínio tem sua força visual, seu pulso narrativo e suas metáforas bem posicionadas. Samuel, por exemplo, funciona como uma ponte entre o divino e o mundano, e sua presença guia o roteiro com algum equilíbrio. Já o personagem Jonathan, filho de Saul, aparece como a figura mais acessível ao espectador. Há nele um dilema interno que ecoa de forma mais crível, menos plástica.
Se comparada a obras como “The Chosen”, que assumiu riscos maiores ao humanizar figuras bíblicas com mais liberdade, “Casa de Davi” ainda joga com as cartas marcadas da tradição. Ela prefere a segurança do texto conhecido à ousadia da reinterpretação. Mas, dentro dessa moldura, consegue entregar um retrato visualmente impactante e espiritualmente denso, mesmo que por vezes engessado.
O saldo? Uma série que pode não revolucionar, mas que respeita sua própria proposta. E para quem busca revisitar as narrativas bíblicas com um olhar mais contemplativo e menos doutrinário, há valor na caminhada de Davi antes da coroa. Nem tudo aqui é sobre a queda de um gigante. É sobre carregar a pedra no bolso por tempo suficiente até entender o peso do destino.
“Casa de Davi“
Direção: Jon Erwin, Jon Gunn
Elenco: Michael Iskander, Ali Suliman, Ayelet Zurer
Disponível em: Prime Video
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