Quando um estúdio de animação decide investir em mitologia própria, o risco é alto. Requer precisão de tom, domínio emocional e uma maturidade incomum para tratar infância com seriedade. “Como Treinar Seu Dragão” não só aceita esse desafio, como o eleva. O que o filme propõe vai além da curva narrativa convencional: entrega uma fábula sobre identidade, herança e afeto construída com rigor e humanidade.
Confira a agenda de shows de junho em São Paulo

O ponto central do longa está na arquitetura dos vínculos. A narrativa é sobre o espaço que se abre quando se abandona a lógica da força como métrica de valor. A jornada é menos sobre transformação e mais sobre revelação: não se trata de mudar o que se é, mas de permitir que o que já existe possa enfim emergir.
Essa escolha narrativa se desdobra na condução visual do filme. O uso do voo como linguagem é absolutamente estratégico. Cada sequência aérea é uma afirmação de liberdade e descoberta. Não é só espetáculo técnico, é discurso cinematográfico. O que está em jogo não são apenas criaturas voando, mas a conquista do direito de se expressar, de se colocar no mundo.
A ambientação viking dá forma ao contraste: a dureza da tradição frente à sensibilidade da diferença. Nesse embate, o longa encontra tensão suficiente para sustentar seus arcos emocionais. Mas o mérito não está apenas no conflito. Está no silêncio entre eles. A obra entende que os laços mais profundos se constroem naquilo que não precisa ser dito. E quando isso é feito com personagens animados, o feito é ainda maior.
Tecnicamente, a direção de arte se apoia em texturas táteis e em uma paleta de cores que transita entre o frio das convenções e o calor da intimidade. O design das criaturas escapa do lugar-comum e propõe uma iconografia própria, com identidade visual clara. A trilha sonora atua como expansão emocional da narrativa, moldando com precisão os picos dramáticos e as zonas de respiro.
“Como Treinar Seu Dragão” é cinema de descoberta. Uma animação que entende o público infantil como inteligente e o adulto como emocionalmente disponível. Ao recusar o espetáculo vazio, escolhe o risco da introspecção. Ao abrir mão do herói invencível, encontra força justamente na vulnerabilidade.
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.