Pedro Almodóvar retorna ao gênero do faroeste sob sua lente autoral em “Estranha Forma de Vida”, um curta-metragem de 31 minutos que está entre os destaques da MUBI. Com uma narrativa contida, o filme investe na exploração das masculinidades, do desejo e das relações marcadas pelo tempo, evocando os códigos do western clássico, mas subvertendo suas convenções ao embutir uma estética queer deliberadamente evocativa.
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A trama acompanha Silva (Pedro Pascal), um pistoleiro que cruza o deserto para visitar Jake (Ethan Hawke), xerife de uma cidadezinha com quem compartilhou um passado intenso, agora enterrado sob anos de distância e silêncio. O reencontro, inicialmente carinhoso, rapidamente revela motivações ocultas ligadas a um crime recente, reabrindo feridas e forçando os protagonistas a confrontar o peso de suas escolhas e de sua paixão reprimida.
A fotografia, assinada por José Luis Alcaine, destoa do western tradicional ao evitar a exaltação da paisagem. Ao contrário dos grandes planos abertos característicos do gênero, Almodóvar opta por closes e composições cromáticas vibrantes, remetendo mais à sua filmografia do que aos westerns spaghetti que o filme referencia. O figurino de Anthony Vaccarello, diretor criativo da Saint Laurent, reforça o caráter estilizado da obra, criando uma roupagem que flerta entre a teatralidade e o fetiche visual.
O roteiro se estrutura no embate entre Silva e Jake, explorando não apenas as consequências de uma paixão interrompida, mas também o peso da moralidade e do dever. No entanto, a curta duração compromete uma maior profundidade na construção dos conflitos. Se a promessa de um western homoerótico carregado de tensão é cumprida na presença dos protagonistas e na dinâmica entre eles, o desenvolvimento da trama acaba parecendo rápido demais para seu próprio potencial.
Pedro Pascal e Ethan Hawke apresentam atuações contidas, mas carregadas de subtexto, com uma química tácita que transita entre nostalgia, desejo e ressentimento. O filme se apoia fortemente na força desses dois atores, criando momentos de pura intensidade dramática, ainda que a conclusão não atinja o impacto emocional de outras obras do diretor.
“Estranha Forma de Vida” ressoa como uma experiência visual e estilística, uma peça de transição para Almodóvar no cinema internacional, apontando para sua ambição de explorar novas possibilidades narrativas. No entanto, a sua curta duração o impede de se tornar a grande obra que poderia ser. A sensação final é de que este faroeste homoerótico tinha potencial para um longa-metragem capaz de revitalizar o gênero. Como está, é uma carta de amor estética e emocional, ainda que incompleta, a um tipo de cinema que não teme o desejo e as paixões que nunca se apagam.
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