A britânica Fabiana Palladino, filha do baixista Pino Palladino, entrega em seu álbum de estreia um retrato multifacetado de si mesma, construído com uma precisão que beira o artesanal. “Fabiana Palladino” não é um disco que grita suas intenções, ele desliza, observa, respira. Cada faixa parece calculada para capturar fragmentos de uma jornada emocional, como páginas arrancadas de um diário, mas organizadas de forma a criar uma história coesa, ainda que misteriosa. Há uma ousadia silenciosa em como ela mistura sons que evocam o retrô com uma produção que soa inegavelmente moderna, como se desafiasse o ouvinte a encontrar conforto e estranheza no mesmo espaço.
Ao longo do álbum, Fabiana caminha por territórios que transitam entre o familiar e o inesperado. “Stay With Me Through The Night” é uma abertura que seduz lentamente, com uma base instrumental que se desenrola como uma conversa que ainda está se aquecendo. E então, quando você acha que sabe para onde ela vai, “Closer” entra em cena, oferecendo camadas vocais que parecem flutuar em uma espécie de suspensão. Não há pressa, não há urgência: apenas uma entrega cuidadosa, como alguém que te leva pela mão para explorar um lugar que conhece bem, mas que ainda carrega mistérios.
Esses momentos delicados encontram contrapartes em faixas como “Shoulda”, que traz uma energia mais dinâmica, mas sem perder o controle. Fabiana sabe como manipular o movimento das canções, deixando que melodias fluam com naturalidade, quase como se fossem um rio que encontra seu curso. “Deeper”, por outro lado, expande esse universo com sintetizadores que soam como constelações acendendo em um céu escuro, criando uma atmosfera que, de algum modo, é tanto íntima quanto expansiva.
As letras, muitas vezes depressivas, têm o charme de serem acessíveis sem jamais soarem simplórias. Elas capturam um momento no tempo, um fragmento de emoção, mas deixam espaço para que o ouvinte preencha as lacunas. Há algo encantadoramente humano na forma como Fabiana desenha cenários – a solidão de uma noite que parece interminável, a hesitação de olhar para trás, a coragem silenciosa de seguir adiante. Tudo isso é construído com uma honestidade que, ao invés de se impor, convida o ouvinte a se aproximar.
Mas nem tudo é perfeito neste trabalho inaugural. Algumas escolhas parecem destoar, como “Can You Look In The Mirror?”, com a base instrumental carece de profundidade, ou “Give Me A Sign”, que soa quase tímida em comparação às demais faixas. Até mesmo a ambição de “Deeper”, por mais impactante que seja, acaba tropeçando em um ou outro detalhe que parece não se encaixar completamente. Esses deslizes, no entanto, não comprometem o todo; eles apenas lembram que este é um álbum de estreia, cheio de experimentações, algumas mais acertadas do que outras.
“Fabiana Palladino” é um disco que não exige, mas recompensa. Ele não precisa se fazer maior do que é para chamar atenção a beleza está em sua contenção, na maneira como Fabiana transforma temas universais em algo profundamente pessoal. É um trabalho que deixa sua marca sem alarde, como um segredo que você quer compartilhar, mas ao mesmo tempo deseja guardar só para si. Em meio a um cenário pop que frequentemente aposta no exagero, Fabiana encontra força em explorar os recantos mais sutis da emoção humana, iluminando-os com um brilho discreto, mas inesquecível.
Nota final: 95/100
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