O álbum lançado em 2019 por Madonna oferece uma imersão profunda no universo de uma artista que se recusa a se acomodar. Madonna sempre foi uma figura de transformação e experimentação, e, com esse trabalho, ela nos apresenta uma obra que reflete não apenas sua capacidade de reinventar-se, mas também a força de sua visão artística ao longo de quatro décadas de carreira.
2025 começa com novidades: os álbuns “MDNA”, “Rebel Heart” e “Madame X”, lançados pela Interscope, passam a integrar o catálogo da Warner Music, possibilitando novos produtos e projetos que valorizem as obras da década de 2010 da Rainha do Pop.
Em “Madame X”, a cantora se afasta de sua zona de conforto para explorar um espectro de sonoridades globais, infundindo influências latinas, africanas e portuguesas em suas produções. O álbum foi inspirado por sua experiência como expatriada em Lisboa, Portugal, e isso se reflete não só nas colaborações com artistas como Maluma, Anitta e Swae Lee, mas também na adoção de uma estética musical e lírica que faz referência à diversidade de culturas e influências que Madonna encontrou enquanto vivia nesse novo cenário.
O conceito por trás de “Madame X” é uma das facetas mais ousadas do álbum. Madonna assume a persona de uma agente secreta, um ser multifacetado que viaja pelo mundo e muda de identidade. Esse alter ego serve como a lente através da qual a artista explora temas como sexismo, racismo, liberdade de expressão e violência armada, trazendo questões políticas e sociais ao centro de sua música. Como uma espiã, ela se disfarça e assume diferentes máscaras, e a forma como a produção do álbum reflete essa metamorfose é notável.
A escolha de usar o autotune, por exemplo, não é meramente uma tendência de produção, mas uma extensão dessa transformação. Em faixas como “Dark Ballet” e “God Control”, o efeito vocálico se torna um veículo para explorar sonoridades experimentais, quase que distantes da voz humana em sua pureza, mas ainda assim profundamente emocional. “Dark Ballet”, por sua vez, faz uma transição radical de estilos, indo de uma introdução sombria e clássica para uma parte central de música eletrônica moderna, até um inesperado segmento de spoken word. Essa peça complexa e multifacetada exemplifica o espírito inquieto do álbum e a audácia criativa de Madonna.
Outro ponto de destaque em “Madame X” são as colaborações, que são muito mais do que simples adições de vozes. Em “Medellín”, Madonna e Maluma criam uma atmosfera relaxada e sensual, trazendo à tona uma química inusitada entre os dois, enquanto “Crave” soa como um refresco em sua simplicidade e sinceridade. Aqui, a voz de Madonna é genuína, desprovida dos efeitos que marcam outras faixas, e isso permite uma proximidade rara, tornando a música quase uma declaração íntima de desejo e vulnerabilidade.
Além disso, o álbum não hesita em explorar os desafios sociais e políticos. “God Control”, com seu discurso sobre o controle de armas e a violência nos Estados Unidos, traz um vigor contestador, ao mesmo tempo que se utiliza de uma produção de grande impacto, que mistura a disco music com uma abordagem mais sombria e moderna. A ideia de que a música pop pode ser uma plataforma para debate social nunca foi tão presente quanto neste trabalho de Madonna, com uma entrega que balanceia entre a necessidade de ativismo e a força da performance artística.
Em faixas como “Batuka”, onde Madonna se alia à Batukadeiras Orchestra para criar uma música vibrante e cheia de energia, a artista dá uma verdadeira lição de como a música pode ser uma ferramenta poderosa para exprimir questões culturais e sociais. A canção, que fala sobre a luta contra o sexismo e a opressão, soa como uma celebração de resistência, tornando-se não apenas um momento de festa, mas também um grito de liberdade.
Mesmo quando o álbum se arrisca em territórios mais pop, como em “Faz Gostoso”, com a participação de Anitta, há uma sensação de que Madonna está em seu próprio universo, criando algo que transita entre o mainstream e o experimental. “Faz Gostoso” é um dos momentos mais leves, mas mesmo ali há uma profundidade no modo como a música é construída, mantendo o espírito global do álbum intacto.
O uso do autotune em várias faixas pode ser visto como um ponto controverso, especialmente porque, em certos momentos, o efeito soa excessivo, como se tivesse sido aplicado sem necessidade. No entanto, em outras ocasiões, o autotune é incorporado de forma criativa, ampliando o conceito de Madame X e adicionando camadas de distorção vocal que se alinham perfeitamente com o tema da mudança de identidade e da travessia de fronteiras. Apesar disso, a verdadeira força de “Madame X” está na produção global e eclética, na sua forma de misturar sons de diferentes partes do mundo e na maneira como Madonna consegue manter sua essência artística, sem jamais sucumbir a modismos passageiros.
Ao longo de suas 18 faixas, o álbum demonstra a dedicação de Madonna em criar algo profundo e significativo, não apenas para ela mesma, mas também para seus ouvintes. Cada música é uma parte de uma jornada, seja através de sons exóticos ou letras que falam diretamente sobre a experiência humana. A emoção crua de faixas como “I Rise” e “Looking for Mercy” mostra a vulnerabilidade de uma artista que, ao contrário de muitos, não tem medo de se expor e enfrentar seus próprios demônios e as questões globais que afligem a sociedade.
“Madame X” não é um álbum fácil de consumir. Sua abordagem eclética, seus riscos sonoros e suas questões políticas podem afastar alguns ouvintes, mas para aqueles dispostos a ir além da superfície, ele se revela como uma obra de imensa profundidade e significado. Madonna se reinventa, mais uma vez, e entrega um dos seus trabalhos mais ousados e recompensadores, não apenas como uma artista pop, mas como uma mulher em constante evolução, capaz de refletir o espírito de sua época com uma visão única e intransigente.
Nota final: 80/100
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