“Rua do Medo: 1978”, segundo capítulo da trilogia baseada na obra de R.L. Stine, mostra uma evolução considerável em relação ao longa anterior. Ao deslocar a narrativa para o passado, mais precisamente para um acampamento de verão no final dos anos 1970, o filme abandona parte da estilização pop de 1994 e mergulha em uma ambientação que bebe diretamente da fonte de clássicos do horror slasher, como “Sexta-Feira 13” e “Sleepaway Camp”, mas com uma execução mais cuidadosa e coesa.
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A trama se passa durante o massacre do Acampamento Nightwing, onde jovens de Shadyside e Sunnyvale estão reunidos. O foco recai sobre as irmãs Cindy e Ziggy Berman, que enfrentam a tensão entre as duas cidades enquanto um novo surto de assassinatos se desenrola. A origem da violência, mais uma vez, está ligada à maldição de Sarah Fier, figura central na mitologia da trilogia.
A construção das protagonistas representa um salto qualitativo em relação ao primeiro filme. Cindy, interpretada por Emily Rudd, rompe com o arquétipo da “final girl” tradicional ao revelar camadas emocionais mais complexas. Sua aversão às drogas e ao sexo não é apenas uma moralização implícita, mas sim uma resposta à violência e desestruturação familiar que ela tenta escapar. Alice (Ryan Simpkins), inicialmente apresentada como a garota rebelde e autodestrutiva, também foge do rótulo ao ganhar espaço para conflitos internos e transformação emocional. Já Ziggy, vivida por Sadie Sink, acrescenta intensidade dramática ao elenco com uma atuação que equilibra vulnerabilidade e agressividade, em um papel que se beneficia do carisma natural da atriz.
A ambientação retrô é um dos pontos mais fortes do filme. A direção de arte e o figurino reproduzem com fidelidade a estética da década de 1970, sem resvalar no exagero cômico ou na caricatura. A fotografia mantém o padrão já estabelecido pela trilogia, com um brilho polido que remete a “Stranger Things”, mas aqui isso contribui para um contraste interessante entre a inocência juvenil e a brutalidade gráfica dos assassinatos. A violência, aliás, é elevada em comparação com o primeiro longa. O assassino mascarado desta vez é uma figura de presença física mais agressiva, com uma abordagem implacável e cenas de morte que não poupam sequer personagens infantis. Isso adiciona tensão real à narrativa e distancia a obra de muitos dos slasher genéricos recentes.
Diferente da maioria das antologias ou séries de terror episódicas, “Rua do Medo” investe em coesão narrativa e continuidade mitológica. Sarah Fier, como vilã central, começa a ganhar contornos mais definidos em 1978. Sua presença deixa de ser apenas um artifício sobrenatural e passa a carregar uma crítica social mais explícita. As referências à caça às bruxas, ao moralismo violento e à exclusão social posicionam a maldição da cidade como uma metáfora para o trauma coletivo e a opressão sistemática. É um subtexto que enriquece a história e amplia seu potencial de leitura para além do terror puro.
Os coadjuvantes contribuem com solidez. Chiara Aurelia assume um papel menor, mas marcante, como valentona autoritária. A interação entre os adolescentes constrói uma tensão crescente, tanto emocional quanto física. O roteiro, desta vez, evita os tropeços estruturais do primeiro filme, entregando um segundo ato mais fluido e uma progressão de eventos mais equilibrada.
Embora continue operando dentro da lógica das referências, o filme consegue encontrar sua própria identidade ao equilibrar homenagem com substância. Ao invés de simplesmente replicar a estética dos anos 1970, o longa explora os conflitos sociais e emocionais do período com mais cuidado. O uso de violência gráfica não é gratuito, mas sim parte da estratégia narrativa para elevar a gravidade dos eventos e evitar a sensação de previsibilidade.
“Rua do Medo: 1978” consolida a trilogia como um dos projetos mais ambiciosos e bem-executados da Netflix no gênero terror. A combinação entre personagens bem desenvolvidos, atmosfera eficiente, subtexto relevante e ação slasher intensa marca um amadurecimento narrativo significativo.
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