O novo álbum da The Mars Volta, “Lucro Sucio; Los Ojos del Vacío”, representa mais uma ruptura consciente na trajetória da banda. Se antes o grupo era conhecido por uma abordagem maximalista, centrada em improvisação, agressividade e tensão composicional constante, aqui o movimento é o oposto: há contenção, fluidez e foco em texturas. A reconfiguração do som passa por uma estrutura harmônica mais acessível, uma produção mais arredondada e, sobretudo, uma lógica musical que se ancora na repetição hipnótica e no minimalismo estético, afastando-se radicalmente do virtuosismo como fim em si mesmo.
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Do ponto de vista técnico, a mixagem do disco privilegia planos sonoros limpos e arejados, em que sintetizadores etéreos, guitarras tratadas com compressão sutil e reverberações amplas constroem uma ambiência quase cinematográfica. O uso de sintetizadores analógicos em frequência média e baixa atua como base para a sustentação de harmonias simples, mas cuidadosamente moduladas. É um álbum que abraça a uniformidade de clima como estética deliberada, onde a densidade não vem de sobreposição rítmica, mas do acúmulo lento de camadas tímbricas.
A performance vocal de Cedric Bixler-Zavala segue esse novo regime expressivo. Os vocais perdem agressividade, mas ganham nuance: há um trabalho de fraseado mais melódico, com uso inteligente de falsete e de dinâmicas suaves, reforçando o caráter quase narcótico das composições. Cedric se desloca de um centro expressivo performático para um papel quase atmosférico, agindo como mais um instrumento harmônico dentro do arranjo. Os timbres vocais, por vezes tratados com filtros e delays granulados, ampliam a sensação de deslocamento onírico que atravessa o disco inteiro.
Na construção rítmica, o álbum é guiado por uma bateria intencionalmente simplificada. Em vez das quebras imprevisíveis e polirritmias que marcavam trabalhos anteriores como “Frances the Mute”, aqui a percussão opta por figuras rítmicas regulares e cadenciadas, com ênfase no groove e na repetição. O baixo atua com notável economia, preenchendo os espaços com linhas minimalistas, mas fundamentais para dar corpo à arquitetura harmônica.
A estrutura das faixas reforça o caráter coeso do projeto. Ao invés de apostar em picos narrativos ou em contrastes radicais, o álbum funciona por imersão: as faixas se desdobram lentamente, muitas vezes sem clímax ou resolução convencional. Essa decisão traz riscos (em especial a sensação de diluição e derivatividade) mas também revela um domínio de linguagem que prioriza a construção de atmosfera sobre a expectativa de impacto.
Mesmo com momentos em que o álbum ameaça cair em redundância (com faixas que se estendem além do necessário sem introduzir novas ideias), a proposta permanece clara e conceitualmente sólida. Não se trata de um disco que exige atenção a cada segundo, mas sim de um trabalho que recompensa escutas longas e repetidas, nas quais detalhes de timbre, ambiência e textura emergem como formas de complexidade invisível.
“Lucro Sucio; Los Ojos del Vacío” é um projeto que não busca reafirmar a identidade caótica do The Mars Volta, mas sim desmembrá-la. Ao abdicar da urgência e da dissonância como estratégias de impacto, a banda se reinventa ao optar pela dilatação, pela introspecção e pelo controle formal. A energia antes canalizada pelo excesso é aqui sublimada em precisão e foco estético, transformando o álbum em uma peça madura, meticulosamente calibrada e artisticamente coerente.
Nota final: 78/100
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