Com “The Young Mother’s Home“, os irmãos Dardenne expandem sua filmografia centrada na dignidade dos marginalizados, desta vez enfocando cinco jovens mães e seus filhos vivendo em um centro de acolhimento. A premissa sugere um retorno às raízes do cinema social dos cineastas, reconhecido por sua estética minimalista e pela câmera próxima dos corpos e rostos de personagens à margem da sociedade. No entanto, embora o filme reafirme temas centrais da dupla, seus meios de execução revelam uma tensão criativa entre o formalismo habitual dos diretores e a necessidade de se atualizar em um contexto mais exigente.
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Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro e do Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Cannes 2025, o filme parte de uma ideia generosa: seguir Jessica, Perla, Julie, Naïma e Ariane, todas adolescentes recém-mães, enfrentando uma estrutura social que as empurra para soluções binárias. O roteiro constrói suas tramas a partir de dilemas reais, como o aborto indesejado, a maternidade compulsória, a solidão institucionalizada, o machismo familiar, a pobreza estrutural. No entanto, ao tentar abarcar tantas histórias em um tempo limitado, os Dardenne enfraquecem a densidade emocional que normalmente sustenta seus filmes.
A fragmentação dramática é o principal obstáculo. Ao invés de uma progressão narrativa que permita ao espectador habitar verdadeiramente as angústias e esperanças de cada jovem, o filme opta por retratos parciais que nem sempre se completam. O resultado é um esboço coletivo que oferece amplitude, mas carece da profundidade individual característica das melhores obras da dupla. Isso se agrava pelo desequilíbrio nas atuações: algumas performances soam cruas, autênticas, enquanto outras caem em artificialidade ou sobrecarga dramática, comprometendo a verossimilhança que o estilo dos Dardenne tanto preza.
Mesmo com esses entraves, “The Young Mother’s Home” não se distancia completamente do valor emocional que os irmãos sabem extrair de suas histórias. Em alguns momentos de silêncio, de gestos íntimos ou olhares desviados, o filme alcança ecos genuínos de empatia. Quando permite que o tempo se prolongue sobre as decisões mais difíceis, a narrativa se aproxima da universalidade que persegue.
Existe também, sob a superfície da trama, uma proposta ética clara: confrontar o abandono das gerações mais jovens pelas instituições e pelos adultos que deveriam sustentá-las. Nesse sentido, o filme aponta para um paradoxo pungente: enquanto a sociedade trata essas adolescentes como incapazes de exercer maternidade, é exatamente a maternidade que lhes oferece a única oportunidade concreta de construir novos sentidos para si mesmas.
A estética visual permanece fiel à tradição dos Dardenne: câmera na mão, ausência de trilha sonora, montagem direta. Mas aqui, tal escolha perde parte de sua potência simbólica, sobretudo pela irregularidade no texto e pela quantidade excessiva de núcleos dramáticos. O resultado final é mais comprometido com a intenção do que com a execução.
“The Young Mother’s Home” não figura entre os trabalhos mais contundentes da dupla, mas também não deve ser descartado como tentativa fracassada. Ainda que sofra com diálogos frágeis, atuações desiguais e uma estrutura dispersa, há em sua proposta uma relevância incontestável. Ao retratar adolescentes forçadas a amadurecer num mundo que lhes nega o mínimo, o filme clama por escuta, suporte e reforma. Fica, ao fim, a sensação de que os Dardenne ainda têm muito a dizer, mas precisam encontrar uma nova forma de dizer.
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