“Um Lugar Chamado Utopia” tenta ser distopia, comentário social, thriller de ação e sátira visual ao mesmo tempo. Mas tropeça no mais básico: falta direção clara, falta consistência formal e falta coragem estética para encarar o próprio discurso. A premissa parece robusta, mas é conduzida com uma ingenuidade que beira o constrangimento.
Do mesmo diretor de “Noites Brutais”, “A Hora Do Mal” estreia em agosto no Brasil

O filme parte de uma base que já foi visitada dezenas de vezes no cinema contemporâneo: instalações secretas onde o prazer, o poder e o desespero se misturam sob a fachada de entretenimento tecnológico. E por mais que remeta diretamente ao imaginário de “Westworld”, aqui a proposta soa como um esboço mal recortado de outras ficções muito mais conscientes de seus próprios limites.
Há um esforço para construir tensão com um protagonista em missão de resgate, mas a narrativa se resume a um corredor de clichês. O texto não propõe dilemas morais, não oferece camadas psicológicas e, pior, trata o espaço feminino como um pretexto visual barato, instrumentalizando corpos sob o disfarce de denúncia, quando na verdade replica aquilo que finge criticar.
Visualmente, o filme até acerta em alguns momentos. O design da instalação, com sua arquitetura imponente e locações filmadas na Bulgária, garante alguma identidade. Há um contraste evidente entre o tamanho físico da construção e a pequenez da dramaturgia, como se a estrutura fosse grande demais para o conteúdo que carrega.
A ação, apesar de tentar compensar a fragilidade do roteiro, é conduzida com um desequilíbrio gritante. As cenas são rápidas demais, mal coreografadas e repletas de cortes nervosos que atrapalham o ritmo. A violência não tem peso dramático, serve apenas como vinheta visual. E o resultado é frustrante, especialmente quando se tem em cena nomes experientes em coreografia e execução de lutas. O talento está lá, mas ninguém parece saber o que fazer com ele.
A artificialidade das atuações, somada a um ritmo irregular e à repetição de situações, transforma o filme em um exercício de paciência. Há até um charme na tentativa de criar um universo compartilhado, com países fictícios e conexões entre filmes de baixo orçamento, mas isso acaba parecendo mais um adereço do que uma real ambição de mundo expandido. É mais citação gratuita do que construção narrativa.
“Um Lugar Chamado Utopia” poderia ser uma peça curiosa do cinema B atual, desses títulos que mesmo com poucos recursos abraçam a loucura e criam algo fora da curva. Mas aqui tudo parece travado entre o genérico e o reciclado. Falta pulso para o absurdo e falta consistência para a crítica. E o que sobra é uma produção que se leva a sério demais para o que entrega, sem sequer conseguir ser divertida pelo exagero.
É um filme que quer ser provocativo, mas acaba sendo tímido. Quer ser brutal, mas soa artificial. Quer ser moderno, mas envelhece já na primeira cena. E quando o único traço memorável é o cenário, fica claro que havia mais potencial nas paredes do que no roteiro.
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