O Cerrado respira e sangra. Entre o fogo e a lua cheia, surge “Vermelho Sangue”, uma criação que transforma o mito do lobisomem em matéria-prima brasileira. A série abraça o fantástico com sotaque local, misturando misticismo, biotecnologia e romance como se a natureza tivesse decidido se vingar das fórmulas estrangeiras do gênero. O Globoplay entrega uma produção que conversa com o público global sem abrir mão do solo onde pisa.

“Vermelho Sangue” parte de um enredo clássico para erguer uma mitologia própria. Luna, vivida por Letícia Vieira, carrega a maldição do lobo-guará e o peso da herança científica da mãe, Carol, interpretada por Heloísa Jorge. Em meio a experimentos farmacêuticos e criaturas que preferem o sangue ao sol, a série costura um retrato de humanidade dentro do sobrenatural, algo que o audiovisual brasileiro vinha ensaiando, mas raramente alcançava com tamanha naturalidade.
A força da produção está na forma como conecta o mito ao território. A direção de Patricia Pedrosa transforma o Cerrado em um personagem vivo, com textura, cheiro e cor. O vermelho do sangue dialoga com o da terra, e o brilho do luar escapa das metáforas para entrar na pele. O resultado é uma atmosfera que combina suspense, erotismo e ancestralidade com um olhar moderno sobre o desejo e a identidade.
Entre a investigação científica e o instinto selvagem, Luna encontra Flora, interpretada por Alanis Guillen, e dali nasce um romance que desafia fronteiras. A química entre as atrizes cria a pulsação emocional da trama, que oscila entre ternura e perigo, amor e transformação. É nessa dualidade que “Vermelho Sangue” encontra sua alma: um território onde o afeto e a monstruosidade coexistem.
Visualmente, a série impressiona. A fotografia aposta em contrastes de luz e sombra que lembram pinturas em movimento. A trilha sonora flerta com o ritual e o contemporâneo, enquanto o figurino traduz a fusão entre a cidade e o mato. Tudo serve ao propósito de revelar um Brasil que ainda vive entre o concreto e o sagrado.
Há ousadia na escolha de dar rosto novo a um gênero tão explorado. O elenco jovem respira frescor, e a presença de veteranos como Rodrigo Lombardi e Bete Mendes reforça a densidade do elenco. A narrativa cresce a cada episódio, e a mistura de crítica social, mitologia e romance mantém o público intrigado. “Vermelho Sangue” marca um ponto de virada no modo como o audiovisual nacional trata o fantástico: sem vergonha de ser brasileiro, selvagem e político.
A série não busca imitar “Crepúsculo”. Busca superá-lo ao criar um mito nosso. E quando o lobo-guará uiva em Guarambá, a ficção deixa de ser simples entretenimento para se tornar espelho da própria terra. O sangue, afinal, corre em solo fértil.
“Vermelho Sangue”
Direção: Patricia Pedrosa
Criação: Rosane Svartman e Cláudia Sardinha
Elenco: Letícia Vieira, Alanis Guillen, Rodrigo Lombardi, Heloísa Jorge, Pedro Alves e Laura Dutra
Disponível em: Globoplay
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