Aos 95 anos, Fernanda Montenegro assume mais um papel marcante em sua carreira ao interpretar a protagonista de “Vitória”, longa dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira. O filme, que é uma produção original do Globoplay e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (13), se baseia na história real de Joana Zeferino da Paz, uma idosa que, munida de uma câmera, ajudou a desmantelar um esquema de tráfico de drogas em Copacabana, no Rio de Janeiro, nos anos 2000.
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A trama acompanha a personagem título, uma senhora solitária que, aflita com a violência crescente ao seu redor, decide registrar a movimentação de traficantes da região a partir da janela de seu apartamento. O material capturado por ela acaba chamando a atenção do jornalista Fábio Gusmão (Alan Rocha), que se aproxima da idosa e tenta auxiliá-la em sua missão.
A história de Joana da Paz foi revelada em 2005 pelo jornal Extra, mas sua identidade real só foi divulgada após sua morte, em 2023, quando tinha 97 anos. Nascida em Alagoas, ela se mudou para o Rio de Janeiro ainda jovem e, ao longo de sua vida, trabalhou como empregada doméstica e massoterapeuta. Sua rotina mudou quando ela decidiu processar o estado pela desvalorização de seu imóvel, causada pelo tráfico de drogas. Durante o processo, um coronel da Polícia Militar alegou que ela mentia sobre a existência de atividades criminosas na região. Para contestar essa declaração, Joana comprou uma câmera e passou meses filmando as movimentações dos traficantes. Os registros acabaram sendo fundamentais para a investigação que resultou na prisão de mais de 20 pessoas, incluindo policiais envolvidos no esquema.
Porém, a coragem de Joana a colocou em risco, e ela precisou entrar no programa de proteção a testemunhas. Sua identidade foi protegida por décadas, e ela se mudou para outra cidade, vivendo sob um nome diferente até sua morte.
No filme, algumas mudanças foram feitas para preservar sua segurança. Entre as alterações mais notáveis está a escolha de Fernanda Montenegro para interpretar a protagonista. Joana era uma mulher negra, enquanto Fernanda é uma atriz branca, e sua personagem no longa é retratada como mineira, não alagoana. Essa decisão gera questionamentos sobre a falta de representatividade, ainda que tenha sido tomada originalmente para evitar a exposição da verdadeira identidade de Joana enquanto ela estava viva.
Apesar disso, a atuação de Fernanda Montenegro é um dos grandes trunfos do filme. Sua interpretação transmite a fragilidade e a força de Vitória, destacando tanto sua solidão quanto sua determinação inabalável. O elenco de apoio também é competente, contribuindo para a construção de uma narrativa coesa e envolvente.
A direção de Andrucha Waddington e Breno Silveira apresenta uma abordagem cuidadosa da história, utilizando um ritmo crescente para enfatizar a tensão que Vitória enfrenta ao se envolver com a investigação. A cinematografia utiliza planos fechados e tons sóbrios para criar um ambiente de isolamento e perigo, refletindo a posição vulnerável da protagonista.
“Vitória” é um filme bem estruturado, que equilibra sua trama baseada em fatos reais com um tom de thriller investigativo. Embora as escolhas de adaptação gerem debates, o longa é eficiente ao contar uma história de coragem e resiliência. A trajetória de Joana da Paz merece ser conhecida, e o filme cumpre bem esse papel ao projetar sua luta para um público maior.
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