Adaptar um dos musicais mais icônicos da Broadway para o cinema é uma tarefa monumental, e “Wicked” não foge desse desafio. Dirigido por Jon M. Chu, o filme chega aos cinemas em 21 de novembro de 2024 com a ambiciosa proposta de expandir a narrativa por trás de um dos universos mais amados da cultura pop: Oz. Ao explorar a origem da Bruxa Boa e da Bruxa Má, o longa busca construir uma ponte entre o deslumbrante espetáculo teatral e as complexidades narrativas que o cinema pode oferecer.
O filme dedica a primeira metade de sua duração à criação de um mundo visualmente impressionante. É impossível não se perder nos cenários vibrantes que evocam o glamour de uma Technicolor aprimorada, enquanto cada figurino parece carregado de personalidade e história. Há um senso de tangibilidade em tudo, como se o espectador pudesse tocar as texturas das vestimentas ou sentir o ar da Universidade de Shiz. Essa atenção aos detalhes transporta o público para Oz de maneira visceral. Contudo, algumas escolhas de iluminação em cenas específicas, como na biblioteca, acabam enfraquecendo o impacto visual em momentos cruciais, desviando do que poderia ter sido uma composição impecável.
As performances são, em sua maioria, pontos altos. Ariana Grande surpreende como Glinda, equilibrando carisma, humor e vulnerabilidade de maneira impecável. Sua presença em cena transcende as expectativas, entregando um retrato fiel e revigorado da personagem. A química entre ela e Cynthia Erivo, no papel de Elphaba, forma a espinha dorsal emocional do filme. Erivo traz uma profundidade emocional que é difícil ignorar, especialmente em cenas-chave que exploram a solidão e a determinação da personagem. No entanto, sua interpretação carece da intensidade explosiva que marca a Elphaba do musical original. Essa falta de fogo impacta diretamente a maneira como a transição da personagem é percebida, tornando algumas decisões e transformações menos convincentes.
Jon M. Chu demonstra habilidade em traduzir os números musicais para a linguagem cinematográfica, mantendo a essência teatral enquanto utiliza o espaço físico de forma engenhosa. Os momentos de coreografia em grupo são espetaculares, com destaques para “One Short Day”, “No One Mourns the Wicked” e “Dancing Through Life”. Esses números capturam a energia vibrante de um palco da Broadway, mas com a imersão que só o cinema pode proporcionar. A coreografia é ágil, fresca e respeita as raízes do espetáculo original, ao mesmo tempo que injeta uma nova vitalidade.
Por outro lado, o roteiro enfrenta desafios ao equilibrar a densidade emocional da trama com o desenvolvimento de algumas dinâmicas. O relacionamento entre Elphaba e Fiyero permanece raso, uma fraqueza que já existia no musical, mas que poderia ter sido melhor explorada na adaptação. As cenas prolongadas entre Elphaba e a diretora Madame Morrible, por exemplo, poderiam ter sido ajustadas para investir mais na construção do romance ou até na jornada interna da protagonista.
Os temas explorados pelo filme são notavelmente atuais, abordando preconceito, desigualdade e a luta pela aceitação em um mundo que tende a rotular sem compreender. Essa camada adiciona uma ressonância contemporânea à história, mas, em alguns momentos, o peso simbólico parece superar a sutileza narrativa, resultando em mensagens que poderiam ter sido mais organicamente integradas.
Apesar de seus deslizes, “Wicked” é um espetáculo que impressiona e emociona. Com ajustes na caracterização de Elphaba e no desenvolvimento de alguns arcos, o filme poderia atingir o status de obra-prima. Ainda assim, há algo de mágico e duradouro nesta produção. Assim como o próprio Oz, “Wicked” é grandioso, imperfeito, mas absolutamente inesquecível.
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